Parece um simples pedaço de papel, mas o comprovativo que muitos deixam esquecidos no multibanco pode ser uma mina de ouro para quem sabe o que procurar. E o pior? Está a acontecer todos os dias. As vezes por distração, outras por descuido. Em tempos de burlas digitais e fraudes bancárias cada vez mais sofisticadas, deixar este papel para trás é um erro que pode sair caro.
O que revela afinal um comprovativo no multibanco?
Os comprovativos variam consoante a operação, mas há informações que aparecem frequentemente:
- Últimos dígitos do número de conta ou IBAN
- Montantes movimentados
- Entidades e referências
- Nome parcial do titular da conta
- Localização do terminal
- Data e hora da operação
- Tipo de operação (levantamento, pagamento, transferência, etc.)
Para um criminoso experiente, estes dados são suficientes para começar um processo de burla por engenharia social, phishing ou até falsificação de identidade.
Exemplo de burla com base num talão
Imagina que alguém encontra um comprovativo de pagamento com entidade, referência, valor e a identificação parcial do titular. Com isto, pode:
Enviar um SMS ou email falso ao titular com um aviso de “duplicação de pagamento” e pedir dados de acesso. Também contactar o titular a fingir ser do banco, dizendo que houve uma irregularidade. Para além disso pode criar mensagens com dados reais para tornar o esquema mais credível (“pagou 84,35€ ontem às 14h05?”).
Ao associar um dado verdadeiro a uma tentativa de burla, a vítima tem mais tendência a confiar e a seguir instruções perigosas.
E se o comprovativo for de levantamento?
Pode parecer inofensivo, mas até um comprovativo de levantamento pode-se utilizar para avaliar padrões de comportamento:
- Quantos levantamentos são feitos por semana?
- Qual é o montante habitual?
- Qual o terminal mais usado?
- A que horas?
Tudo isto pode ser usado por alguém que quer planear um esquema mais elaborado, como roubo de cartão, clonagem ou até assaltos físicos.
Porque é que tantas pessoas os deixam para trás?
A maioria das pessoas acredita que, por não conterem o número completo da conta ou PIN, os comprovativos não têm qualquer valor. Mas essa ideia está errada. Em cibercrime, cada pequeno detalhe pode ser usado para montar um quebra-cabeças.
Além disso, há quem simplesmente não queira “andar com papelada”, ou que se esqueça do comprovativo por pressa ou distração. E há ainda quem acredite que o papel “fica automaticamente destruído” depois de algum tempo o que não acontece.
O que fazer com os comprovativos?
Aqui ficam as boas práticas que deves seguir sempre que usas o multibanco:
Leva sempre o comprovativo contigo. Mesmo que não precises, não o deixes à vista de todos.
Rasga ou destrói o talão antes de o deitar fora. Evita colocá-lo inteiro no lixo doméstico ou em caixotes públicos.
Nunca partilhes comprovativos nas redes sociais. Há quem o faça para “provar que pagou” algo e acaba a expor dados pessoais.
Guarda apenas os comprovativos que sejam mesmo necessários. O resto deve ser eliminado com segurança.
O que fazer se deixaste um comprovativo no multibanco?
Se achas que deixaste para trás um talão com dados sensíveis:
- Verifica que tipo de operação fizeste.
- Altera imediatamente dados de acesso, se desconfiares que o talão pode ter sido usado de forma indevida.
No mundo digital em que vivemos, os criminosos já não precisam de grandes recursos para começar uma burla. Assim basta-lhes uma pequena pista. E os comprovativos esquecidos no multibanco são, infelizmente, pistas perfeitas.
A próxima vez que usares uma caixa multibanco, lembra-te que aquele papel pode parecer inútil. Mas para alguém mal-intencionado, pode valer centenas ou milhares de euros.
Leva-o contigo, destrói-o com cuidado e não facilites.