Ver televisão tornou-se numa atividade bastante mais complexa do que parece. Na era dos televisores inteligentes, cada clique, cada pesquisa e cada episódio assistido estão a ser registados. Se por um lado estas funcionalidades tornam a experiência mais personalizada, por outro, levantam sérias questões sobre privacidade. Afinal o que é que a Smart TV pode ver sobre si?
Quando está a ver TV é a sua smart TV que o está a ver a si!
Hoje em dia, a maioria dos televisores inteligentes usa uma tecnologia chamada ACR (Reconhecimento Automático de Conteúdos). Esta tecnologia consegue identificar automaticamente o que estás a ver. Isto quer seja numa aplicação de streaming, numa consola de jogos ou num dispositivo ligado por HDMI. Entretanto envia capturas de ecrã frequentes para os servidores do fabricante e dos seus parceiros. Por exemplo, alguns modelos da Samsung podem tirar uma captura de ecrã a cada meio segundo. Já os da LG chegam a fazer isso dez vezes por segundo.
Mas os dados recolhidos não se limitam ao conteúdo visualizado. Muitos televisores também recolhem:
- Informações pessoais como endereço de e-mail, morada e até dados de pagamento.
- Hábitos de visualização, incluindo géneros preferidos, duração das sessões e horários.
- Comandos de voz, que se podem utilizar para identificar padrões de fala ou até reações durante anúncios.
- Dados técnicos, como redes Wi-Fi usadas, dispositivos ligados e consumo energético.
O objetivo? Criar perfis detalhados para servir anúncios personalizados e maximizar os lucros com a venda de dados a anunciantes e corretores de dados.
Este sistema, embora eficaz na recomendação de conteúdos, levanta preocupações. Por um lado, contribui para a criação de bolhas de conteúdo, limitando a diversidade do que nos é sugerido. Por outro, incentiva o consumo excessivo, com impactos na saúde mental, sono e produtividade. E claro, há a questão ética de um dispositivo doméstico funcionar, na prática, como um sistema de vigilância.
Se prefere manter a sua privacidade, é possível desativar funcionalidades como o ACR, o reconhecimento de voz contínuo e a partilha automática de dados. Assim, continua a usufruir da televisão — mas sem comprometer a sua vida privada.