Se navega na Internet todos os dias já reparou certamente numa constante: as hiperligações são quase sempre azuis. Este pequeno detalhe é tão comum que poucos param para pensar na sua origem. Mas porquê azul? Porquê não vermelho, verde ou laranja? A resposta remonta aos anos 80, e envolve investigação científica, design de interfaces e… um professor com uma ideia brilhante. Vamos então explicar-lhe qual a razão pela qual os links são normalmente azuis.
Porque é que os links são normalmente azuis?
Antes da Web, tudo era texto
Nos primórdios da Internet, muito antes do aparecimento dos browsers modernos, tudo se resumia a menus de texto longos e difíceis de navegar. Era necessário percorrer intermináveis listas de ficheiros para chegar à informação pretendida. Até que, em 1985, Ben Shneiderman, professor da Universidade de Maryland, e o seu aluno Dan Ostroff, apresentaram uma ideia revolucionária: menus embutidos, que permitiam clicar diretamente num item para aceder ao conteúdo desejado. Trata-se de algo que hoje chamamos de hiperligação.
Inicialmente apresentados numa exposição num museu, estes “menus numerados” marcavam o início de uma nova forma de navegar na informação. Mas havia uma dúvida por resolver. Assim qual seria a melhor cor para distinguir visualmente estes links do resto do texto?
A cor azul: uma decisão baseada em ciência
Shneiderman e a sua equipa realizaram uma série de testes em 1985. A ideia era encontrar uma cor que fosse visível em diferentes fundos, mas que não interferisse com a leitura nem com a compreensão do conteúdo. O vermelho, por exemplo, destacava-se muito mas prejudicava a retenção da informação. O azul revelou-se a escolha ideal: visível em fundos claros ou escuros, e sem afetar a leitura.
Em 1986, Shneiderman publicou o estudo na revista Communications of the ACM, com o título “Embedded menus: selecting items in context”. O artigo demonstrava que estes menus contextuais (as hiperligações que hoje conhecemos) eram preferíveis aos menus tradicionais e que o azul era a cor ideal.
Este sistema ficou conhecido como HyperTIES, e foi o primeiro a incorporar hiperligações azuis. Mais tarde, Shneiderman apresentou os resultados numa conferência sobre hipertexto em 1987, e a ideia espalhou-se rapidamente.
Um padrão que sobrevive há décadas
Durante os anos 90, com a explosão da Web e dos sistemas operativos gráficos como o Windows, o azul consolidou-se como o padrão visual para links. Entre conferências, estudos e implementações práticas, o consenso era claro. Azul era a cor mais eficaz para ajudar os utilizadores a navegar.
E assim ficou. Hoje, nem pensamos duas vezes quando vemos um link azul. Mas essa escolha, aparentemente banal, é o resultado de décadas de investigação em design de interação, usabilidade e comportamento humano.
Num mundo em constante evolução tecnológica, é curioso como alguns elementos se mantêm inalterados. O link azul é um desses casos. Nasceu de uma necessidade prática, foi validado por estudos científicos, e continua presente em praticamente todos os cantos da Web.