Pensavas que, ao rejeitar cookies, estavas a navegar em paz? A verdade é que o rasto que deixas online vai muito além disso e é quase impossível de apagar. Nos últimos anos, todos aprendemos a carregar em “Rejeitar Cookies” sempre que entramos num site. É como um reflexo de defesa: “Se não aceito, não me seguem.” Mas há uma nova técnica, usada por anunciantes e sites de forma cada vez mais sofisticada, que não precisa de cookies para saber quem tu és. Chama-se fingerprinting digital. E o nome não é por acaso.
O que é fingerprinting digital (e por que devias preocupar-te)
Em vez de guardar um cookie no teu browser, os sites passam a recolher informação técnica sobre o teu dispositivo para te identificar de forma única.
Alguns exemplos do que é recolhido:
- Tipo e modelo do teu dispositivo
- Resolução do ecrã
- Fuso horário, idioma e localização
- Versão do sistema operativo
- Lista de fontes instaladas
- Plugins ativos no navegador
- Até o movimento do rato e os padrões de escrita no teclado
Com tudo isto junto, cria-se uma espécie de “impressão digital única” do teu dispositivo.
Mesmo que não aceites cookies. Mesmo que uses navegação anónima. Até mesmo que não inicies sessão em lado nenhum.
E funciona mesmo? Sim. E muito bem.
Segundo a Electronic Frontier Foundation (EFF), mais de 90% dos dispositivos podem ser identificados unicamente através de fingerprinting. Ou seja: estás a ser seguido por sites e anunciantes sem que saibas e sem que possas recusar.
Para que serve isto?
Publicidade ultra-direcionada: mesmo que nunca tenhas clicado num anúncio, a tua “pegada digital” permite prever o que vais querer ver a seguir.
Rastreamento entre sites: mesmo que navegues em páginas diferentes, o sistema sabe que és “tu” por causa da tua impressão digital.
Bloqueio de VPNs e proxies: alguns sites usam fingerprinting para detetar tentativas de esconder a identidade.
Perfis ocultos: mesmo sem conta ou login, já tens um “perfil sombra” guardado por empresas de tracking.
Como te podes defender (dentro do possível)
Logo à partida usa browsers que bloqueiam fingerprinting, como o Brave ou Firefox com proteção reforçada. Ativa complementos como uBlock Origin, Privacy Badger ou DuckDuckGo Privacy Essentials. Evita extensões desnecessárias, que aumentam a tua unicidade. Para além disso muda de browser e dispositivo quando pesquisares temas sensíveis. Entretanto desconfia de sites que dizem “não usamos cookies”. Assim podem estar a usar fingerprinting em vez disso
Conclusão: apagar o histórico não chega. Porque hoje, até o teu ecrã tem identidade própria.
A privacidade digital está a mudar. E quem se limita a rejeitar cookies está a lutar com armas de 2010 num campo de batalha de 2025. A pergunta já não é “estão a seguir-me?”, mas sim: “o que é que ainda não sabem sobre mim?”