Se nos últimos anos a conversa era sempre sobre mais RAM, mais potência e mais margem para o futuro, prepara-te porque o cenário pode mudar, e infelizmente não é pouco. A escassez global de memória DRAM está a apertar ao ponto de alguns fabricantes já estarem a ponderar algo que parecia enterrado há anos… Voltar a lançar smartphones com apenas 4 GB de RAM.
Infelizmente, esta é a forma mais fácil de manter margens, e lançar algo “aparentemente” novo. Mas… 4GB de memória RAM em 2026? Mas como assim?
Gama média mais fraca e topos de gama a estagnar
Portanto, até agora, o “normal” era simples. Gama média com 8 ou 12 GB, topos de gama a caminhar para os 16 GB e, em alguns casos extremos, até 24 GB. Esse caminho está agora em risco.
A nova realidade aponta para algo bem menos simpático. Modelos intermédios que antes vinham com 12 GB podem passar a ficar limitados a 8 GB ou até 6 GB nas versões base. Já os smartphones mais baratos, que ainda recentemente começaram a abandonar os 4 GB, podem ser empurrados novamente para esse patamar.
Isto não é uma teoria, é algo que vai muito provavelmente ser realidade. Isto porque, nos segmentos mais baratos, poucos são os consumidores que se preocupam com a quantidade de memória RAM disponível.
O Galaxy A16 5G da Samsung foi o Android mais vendido no terceiro trimestre de 2025, e vinha com 8 GB de RAM. Se os fabricantes decidirem cortar custos à força, esse “mínimo aceitável” pode subir de preço ou desaparecer das versões base.
A indústria está a escolher onde ganha mais dinheiro
O problema não é falta de tecnologia. É falta de interesse.
As fabricantes de memória estão cada vez mais focados em segmentos mais lucrativos, como servidores de IA e centros de dados. A própria Samsung está a ajustar a produção para maximizar margens, deixando o mercado mobile numa posição secundária.
Resultado? Menos memória disponível, preços mais altos e decisões que sacrificam o consumidor final.
Durante algum tempo falou-se em smartphones com 20 GB ou mais de RAM como algo inevitável, especialmente com a explosão da IA no próprio dispositivo. Aliás, a própria Google obrigou as parceiras a dar esse salto ao aumentar a quantidade de memória RAM nos seus Pixel topo de gama para 16GB.
Hoje, esse cenário parece cada vez mais distante, pelo menos a curto e médio prazo.
Android vai ter de fazer mais com menos
Se há um lado positivo nisto tudo, é a pressão extra sobre o software. Se os fabricantes insistirem em reduzir a RAM, alguém vai ter de compensar. Curiosamente, esse alguém é a Google.
Afinal de contas, o Android nunca foi brilhante a gerir poucos recursos, ao contrário do iOS. Com a possibilidade real de regressarmos a smartphones com 4 ou 6 GB, a otimização deixa de ser um luxo e passa a ser obrigatória. Caso contrário, a experiência vai sofrer. E muito.
O problema é que estamos numa fase em que a própria indústria está a empurrar funcionalidades de IA local, que precisam precisamente do contrário. Mais memória, não menos.
Soluções criativas ou perda de vendas!
Entretanto, algumas marcas já estão a tentar contornar o problema. A Apple está a estudar formas de guardar modelos de linguagem diretamente em armazenamento flash, em vez de RAM. A Samsung, por sua vez, poderá estar a trabalhar em novos tipos de UFS otimizados para tarefas de IA generativa.
São soluções interessantes, mas também deixam claro o quão grave é a situação.
Em suma, acredito que estamos a entrar numa era, em que os consumidores vão olhar para o modelo do ano passado, em vez do mais recente e mais fresquinho do mercado.
