É uma coisa tão simples que parece banal: fazes a operação no multibanco, levantaste dinheiro, confirmaste, espera-se que o cartão volte e, por qualquer motivo, carregas em “Cancelar” antes de retirares o cartão ou as notas. Pode ter sido um susto, um telefonema, ou só um gesto impaciente. O que acontece depois? O que significa para o teu dinheiro, o teu cartão e a tua segurança? A resposta não é óbvia e tem pelo menos três níveis: funcionamento técnico da máquina, medidas de segurança do banco e atenção às oportunidades que os burlões aproveitam quando há indecisão. Vamos por partes.
O que a máquina faz ao carregar em cancelar no multibanco
Quando inicias uma operação num ATM, o terminal troca mensagens com o banco ou a rede (a infraestrutura que autoriza transacções). Essas mensagens seguem um fluxo: autenticação do cartão, validação do PIN, autorização do montante, impressão do comprovativo e, finalmente, liberação das notas e devolução do cartão.
Carregar em “Cancelar” durante esse processo não é sempre o mesmo. O efeito depende do momento exato em que pressionaste:
Antes de confirmar o montante: a operação é abortada localmente e, na maior parte dos casos, não chega a ser enviada para autorização. O cartão é imediatamente devolvido e nada foi debitado.
Depois de o banco autorizar a operação, mas antes de as notas saírem: o sistema pode decidir reverter a operação ou mantê-la em carteira. Assim algumas máquinas «seguram» a autorização por uns segundos adicionais esperando que o utilizador complete a retirada. Se nada for retirado, a autorização é invalidada e o artigo não sai; o banco nunca chegou a debitar, ou faz o estorno automático.
Depois de as notas terem saído, mas antes de voltares a colocar o cartão no slot: é raro, mas às vezes as notas já saíram e, se carregares em cancelar, podes ter as notas nas mãos mas o cartão preso por segurança. A máquina pode interpretar um acto anormal e reter o cartão para prevenção.
Depois de tudo acabado mas antes de fechares a sessão: carregar em “Cancelar” apenas limpa o ecrã; o processo já terminou e não há efeito prático.
Em resumo: o comportamento varia. A regra prática é simples: não carregues em “Cancelar” até teres o cartão e as notas à tua frente e teres fechado a sessão. Simples, mas eficaz.
E se a máquina ficar com o cartão? Retenção por segurança
Uma situação tão comum que assusta: acabaste a operação, as notas saíram, mas o cartão não voltou. A máquina ficou com ele. Às vezes tens a tentação de carregar em “Cancelar” para «forçar» a devolução. Errado. O botão não é um comando para “vomitar” o cartão. Na verdade, as causas mais prováveis para reter o cartão são:
Tentativas de PIN erradas: três erros e o terminal retém o cartão automaticamente para impedir uso fraudulento.
Cartão expirado, bloqueado ou reportado: se o banco tiver marcado o cartão como comprometido, o terminal retém por instrução.
Tempo de inactividade: se hesitaste demasiado entre passos, a máquina pode concluir que o cartão foi esquecido e guardá-lo para segurança.
Falha técnica ou gesto estranho: um movimento abrupto, tentativa de forçar o slot ou utilização de dispositivos adulterados pode levar à retenção.
Se o cartão for retido, o mais correcto é não sair do local imediatamente. Contacta o número de apoio do banco (geralmente indicado no próprio ATM), ou vai à agência mais próxima. Se houver sinal de adulteração (peças coladas, skimmer), chama a polícia.
O lado sombrio: como os burlões exploram o “Cancelar”
É aqui que a história fica de arrepiar. Há golpes que tiram partido da confusão gerada por um carregamento em “Cancelar” no multibanco. Os métodos variam, mas dois cenários são recorrentes:
O “falso ajudante”
Alguém aproxima-se quando vês o ecrã a dizer «Retire o cartão». Ele finge ajudar, comenta que a máquina está avariada e sugere carregar em cancelar. Enquanto tu hesitas e segues instruções, um cúmplice tira o cartão que a máquina deixou «disponível» ou observa o PIN enquanto distraem.
A armadilha do «cartão preso»
Burlões instalam dispositivos que impedem o cartão de sair. Quando a vítima vê o cartão não regressar, fica em pânico. Surge então o burlão misericordioso a «ajudar», pedindo que carregues em “Cancelar” para reiniciar a máquina. Na confusão, o ladrão retira o cartão preso por baixo do painel ou por detrás do dispositivo adulterado.
Conclusão: nunca aceites ajuda de estranhos. E nunca faças movimentos inesperados no ecrã, sobretudo no caso de algo parecer fora do normal.
Consequências financeiras e legais
Carregar em “Cancelar” raramente gera um débito directo: se o processo não foi autorizado, não há transacção. Mas há situações possíveis de dor de cabeça:
Autorização pendente que expira: se a tua operação foi autorizada e depois cancelada pela máquina, o banco pode mostrar uma retenção temporária no saldo por horas ou até dias enquanto a autorização é resolvida. No fim, costuma ser estornado mas é incómodo.
Cartão roubado após retenção: se um burlão aproveita e clona o cartão ou o leva, começarás a ter movimentos estranhos na conta. Aqui a rapidez de denuncia ao banco é fulcral: bloquear o cartão evita maiores prejuízos.
Responsabilidade: se o banco demonstrar que houve negligência óbvia (partilhar PIN, aceitar ajuda), pode haver disputa sobre responsabilidade, mas em regra os bancos acabam por ressarcir vítimas de fraude se esta for comprovada e reportada atempadamente.
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