O sarampo pode ser extremamente perigoso. Pode ser necessário internamento hospitalar e além de comprometer os pulmões e o sistema imunitário, o sarampo pode causar lesões cerebrais permanentes. Estima-se que três em cada mil pessoas infetadas morram. O sarampo é uma das doenças mais contagiosas que existem. Uma única pessoa infetada pode transmitir o vírus a nove em cada dez indivíduos não vacinados com quem tenha contacto. A vacina, quando administrada em duas doses, tem uma eficácia de 97% na prevenção da doença.
Sarampo: a doença que ataca o corpo por dentro e por fora
O vírus entra no organismo ao ligar-se a proteínas específicas na superfície das células. Após inserir o seu material genético, começa a replicar-se e a destruir as células. Inicialmente, o processo ocorre nas vias respiratórias superiores e nos pulmões, comprometendo a capacidade respiratória do indivíduo.
O vírus ataca também células do sistema imunitário, que o transportam até aos gânglios linfáticos, facilitando a sua disseminação pelo corpo inteiro.
A complicação mais comum que leva à hospitalização é a pneumonia viral provocada pelo sarampo. A destruição das células pulmonares resulta em tosse intensa e dificuldade em respirar. Esta forma de pneumonia afeta uma em cada 20 crianças infetadas e é a principal causa de morte entre os mais pequenos.
O vírus pode ainda atingir o sistema nervoso, causando inflamações ou até infeções diretas no cérebro.
O sarampo pode provocar danos cerebrais de duas formas: através de infeção direta do cérebro (que ocorre em cerca de 1 em cada 1.000 casos) ou por via de inflamação cerebral que pode surgir entre dois a 30 dias após a infeção. Crianças que sobrevivem a estas complicações podem ficar com sequelas permanentes, como perda de visão ou audição.
Consequências prolongadas da infeção
Um dos efeitos mais preocupantes — e ainda pouco compreendido — do sarampo é a sua capacidade de enfraquecer a memória do sistema imunitário. Durante anos, suspeitava-se que a vacina contra o sarampo ajudava também a reforçar a defesa contra outras doenças, mas só recentemente se começou a perceber porquê.
Um estudo de 2019 concluiu que o sarampo pode eliminar entre 11% e 75% dos anticorpos existentes, deixando o organismo vulnerável a infeções anteriormente combatidas. Este fenómeno, conhecido como “amnésia imunitária”, persiste até que a pessoa volte a ser exposta ou revacinada contra essas doenças.
Riscos tardios e fatais
Em alguns casos raros, o vírus permanece adormecido no cérebro e pode reativar-se anos mais tarde, entre sete a dez anos após a infeção inicial.
Esta condição, chamada panencefalite esclerosante subaguda, provoca um tipo de demência progressiva quase sempre fatal. Atinge cerca de 1 em cada 25.000 pessoas infetadas, mas o risco é cinco vezes maior em bebés infetados antes do primeiro ano de vida.
Durante algum tempo, pensava-se que este efeito era causado por uma estirpe especial do vírus, mas estudos recentes sugerem que o próprio vírus do sarampo pode sofrer mutações que lhe permitem invadir o cérebro durante a infeção inicial.
Ainda há muito por descobrir sobre o sarampo. Investigadores estão, por exemplo, a explorar terapias com anticorpos para tratar casos graves. No entanto, mesmo que esses tratamentos se revelem eficazes, a forma mais segura de evitar as complicações da doença continua a ser a vacinação.