Durante a semana tudo parece correr bem: navegas, fazes streaming, jogas online e a Internet da NOS até cumpre o prometido. Mas chega o sábado à noite… e o pesadelo começa. Vídeos que não carregam, pings a disparar, downloads que parecem presos nos anos 2000. Será só uma coincidência? Ou estará a NOS a aplicar traffic shaping, ou seja, a “capar” a velocidade dos clientes quando a rede está mais sobrecarregada? Fomos investigar o que se sabe e o que não está muito claro. Então o que provoca a NOS mais lenta aos fins de semana?
O que é o famigerado “traffic shaping”
O termo soa técnico, mas o conceito é simples: é uma gestão seletiva do tráfego.
Ou seja, o operador decide que tipo de dados têm prioridade e quais podem andar mais devagar por exemplo, vídeos de YouTube ou Netflix, torrents, jogos online, etc.
Isto pode acontecer por vários motivos, desde garantir a estabilidade da rede até evitar que um grupo pequeno de utilizadores “entupa” o sistema.
Mas há um limite: a lei obriga as operadoras a informarem os clientes quando aplicam políticas de gestão de tráfego que possam degradar o serviço.
E é precisamente aqui que começa o problema porque os clientes da NOS dizem que ninguém os avisou de nada.
As queixas multiplicam-se
Nos últimos meses, os fóruns da NOS e o Reddit encheram-se de relatos idênticos:
a Internet abranda brutalmente nos fins de semana, principalmente à noite, e volta ao normal na segunda-feira de manhã.
No fórum oficial da NOS, um utilizador queixa-se: “Esse traffic shaping que a NOS usa para garantir estabilidade em HFC é uma vergonha. Pagamos por 500 Mbps e ao sábado nem 50 Mbps apanho.”
Noutro tópico, alguém resume o sentimento geral: “A NOS vende fibra, mas parece 4G dos tempos antigos. A partir das 18h é impossível ver Netflix.”
Até na Vodafone há quem diga que “a NOS faz o mesmo, e a MEO também”. Ou seja, o fenómeno não é isolado.
E no Reddit, um comentário resume a desconfiança generalizada: “Traffic shaping at NOS? Then you don’t even wanna know what happens at MEO during football games.”
Saturação ou limitação intencional?
Há duas hipóteses principais e ambas são plausíveis.
Saturação real da rede
Nos fins de semana, mais gente em casa, mais streaming, mais downloads, mais jogos online. A rede pode simplesmente não aguentar o volume de tráfego, especialmente em zonas servidas por HFC (cabo + fibra híbrida), onde muitos clientes partilham o mesmo canal de saída. Resultado: velocidades mais baixas, pings mais altos, e uma experiência frustrante.
Traffic shaping disfarçado
A segunda hipótese é que a operadora deliberadamente limita certos tipos de tráfego para evitar colapsos. Isso explicaria porque é que algumas aplicações, como YouTube ou Netflix, parecem sofrer mais do que outras.
E se for esse o caso, estamos perante gestão de tráfego seletiva, algo que deve ser comunicado de forma transparente. Até agora, a NOS não confirmou publicamente qualquer prática desse tipo.
A ANACOM permite isto?
Sim… mas com condições. A ANACOM reconhece que os operadores podem aplicar mecanismos de gestão de tráfego, desde que o façam de forma transparente e não discriminatória. Ou seja, não podem prejudicar determinados serviços sem motivo técnico válido.
E mais: os clientes têm ferramentas para testar se há traffic shaping ativo, como o teste do site oficial da própria ANACOM. Lá, é possível verificar se a tua ligação sofre limitações específicas em certos tipos de tráfego.
Se os resultados mostrarem discrepâncias consistentes (por exemplo, velocidade total boa mas streaming capado), há margem para reclamar formalmente.
O que podes fazer
- Executa testes em horários diferentes: Experimenta medir a velocidade de manhã, à noite e ao fim de semana. Anota tudo.
- Faz o teste de traffic shaping no NET.mede. Se vires comportamentos anómalos, guarda os resultados.
- Compara com outros serviços. Se tens YouTube lento mas o Speedtest dá 300 Mbps, há algo estranho.
- Reclama. Usa o Livro de Reclamações online ou contacta a ANACOM diretamente.
Quanto mais casos forem reportados, mais pressão haverá sobre as operadoras.
O problema da transparência
O maior problema aqui pode nem ser a lentidão em si mas a falta de informação. Se a NOS aplicasse políticas de gestão claras e divulgadas, os clientes saberiam o que esperar. Mas esconder a limitação atrás de palavras como “uso elevado da rede” é, no mínimo, desonesto.
Os consumidores têm direito a saber por que razão a velocidade cai justamente quando mais precisam dela. E se é por “saturação”, então é sinal de que a rede precisa de investimento não de cortes silenciosos.
A Internet da NOS pode até prometer 1 Gbps, mas se for “a conta-gotas” aos fins de semana, de pouco serve.
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