Há alguns anos atrás, naquilo que na realidade parece ter sido há séculos atrás, elogiámos várias fabricantes pelas suas propostas de entrada de gama, e de gama média, por oferecerem uma qualidade de construção cada vez melhor, e na realidade, a grande maioria das capacidades e potencialidades que um utilizador realmente precisava num smartphone.
Estamos a falar dos anos 2019 a 2021, onde podíamos encontrar aparelhos como o Mi 9T, ou o Redmi Note 10 Pro, ambos da Xiaomi, a custar qualquer coisa entre 200€ e 300€, mas, ainda assim, com especificações técnicas realmente muito apelativas, e um design que impressionava qualquer tipo de consumidor.
É preciso dizer que a Xiaomi não estava sozinha nesta luta, porque também existiam propostas incríveis da OnePlus, RealMe, entre outras fabricantes menos conhecidas.
Mas, com o impacto da pandemia, as coisas mudaram! Os smartphones que antigamente eram Bons, Bonitos e Baratos, começaram a ficar parados no tempo, e começaram também a ficar significativamente mais caros.
Por isso, pagar caro por caro, os consumidores começaram a voltar-se para as gamas altas, ou como a indústria gosta de chamar, aparelhos “Premium”. O que basicamente significa o mercado acima dos 800€. Com um foco especialmente forte nos aparelhos topo de gama, onde podemos encontrar o trio de luxo dos 1500€, ou seja, o iPhone 15 Pro Max, o Galaxy S24 Ultra, e claro, o Xiaomi 14 Ultra.
Porquê este encarecimento? Simples! Porque você paga e vai continuar a pagar!
Já ninguém quer smartphones baratos?
Apesar do facto de as fabricantes terem algum receio de ultrapassar a fasquia dos 1500€, a realidade é que a gama mais alta só tem encarecido, à medida que também tem vindo a ficar mais poderosa e mais bem construída.
Óbvio que sempre existiu espaço para aparelhos topo de gama, onde as fabricantes oferecem toda a sua tecnologia, sendo também aqui onde têm mais margem. Mas, historicamente, é na gama média que deviam estar as “massas”. Ou seja, no lado do desempenho-preço, onde é possível conseguir ter níveis de performance similares aos da gama alta, a preços muito mais apelativos. Infelizmente, isso é cada vez mais verdade.
Sendo exatamente por isso que as fabricantes de referência deixaram de lançar apenas um ou dois aparelhos topo de gama, para começar a lançar gamas cada vez maiores. Por exemplo, a Samsung lançava apenas um Galaxy S, e agora lança três, acrescentando ainda os dois modelos dobráveis que chegam ao mercado um pouco mais à frente. A Apple, que também lançava apenas um iPhone, lança agora quatro modelos diferente do seu smartphones todos os anos, e ao que tudo indica, está a planear começar a lançar 5 se o novo iPhone SE 4 for um sucesso.
Uma estratégia que é replicada por todas as outras fabricantes, como é o exemplo da Google, que lançou agora 4 modelos Pixel 9.
Ainda assim, apesar de existirem mais que muitas alternativas, a grande maioria dos consumidores opta pelo modelo mais caro!
Por exemplo, a Apple, que nunca foi conhecida pelos seus preços amigos da carteira, tem mais de 50% de quota de mercado em várias regiões, e em algumas delas, já começa a ameaçar os 60%.
Por isso, tendo em conta que além do iPhone, os aparelhos que mais vendem são os topo de gama das outras fabricantes Android… Onde fica a gama média?
Isto levanta uma questão… Será que os consumidores perderam o fia à meada? Ou são as fabricantes que estão a exagerar nos preços? No fundo, é um pouco das duas coisas.
Ainda se lembra da altura em que o iPhone X chegou ao mercado, em 2017, e todos os especialistas afirmaram que era um preço demasiado alto, e que por isso ninguém ia comprar. Bem… Fizeram filas à porta, e hoje em dia, com mais 400€ e tal euros em cima dos 1079€ do iPhone X, a realidade é que as filas continuam bem vivas. Afinal de contas, o iPhone 15 Pro e Pro Max tiveram problemas de stock no início do seu ciclo de vida em 2023.
Topo de gama? Porquê?
No mundo dos smartphones, podemos dividir a coisa em três campos:
- Gama de Entrada
- Gama Média
- Topo de Gama
Na parte dos topo de gama, podemos ainda meter uma sub-gama, os Ultra-Premium, onde podemos incluir os já referidos iPhone 15 Pro Max, S24 Ultra e Xiaomi 14 Ultra.
Dito tudo isto, todas estas gamas “tinham” o seu objetivo!
A Gama de Entrada tem o objetivo de criar volume de produto, mas sem grandes expetativas de receitas. Isto significa que a marca tem uma maior presença, consegue fazer evoluir uma economia de escala, o que por sua vez significa melhores preços junto dos fornecedores de componentes, e também junto de retalhistas.
Por sua vez, a Gama Alta (Topo de Gama) tem o objetivo de levar o mercado a níveis mais altos, porém, com algum risco à mistura. Os consumidores podem não valorizar todas as inovações técnicas de cada fabricante, mas elas estão lá, e trazem um preço bastante mais alto. É também aqui que as fabricantes têm margens mais altas. É uma gama onde se arrisca mais, mas também onde se pode ganhar mais dinheiro.
Por fim, temos a Gama Média, onde temos o “ponto ótimo” entre preço e tecnologia, onde as fabricantes conseguem produzir em volume, vender a um valor justo, e assim ganhar algum dinheiro com pouco risco à mistura.
Mas, hoje em dia, as coisas já não são bem assim, com o foco quase totalmente virado para a gama alta.
Por exemplo, na Alemanha, em 2019, apenas 25% do mercado optava por aparelhos Premium (acima dos 800€), e apenas 11% optava pelos topo de gama super-premium. Entretanto, hoje em dia, em 2024, esse número já vai nos 70%, com 34% a preferirem apenas modelos super-premium. A tendência continua a ser de subida, e a Alemanha é apenas o espelho da Europa. Até em Portugal se prefere modelos super caros, mesmo com o nosso poder de compra comparativamente mais pequeno.
É simples!
Da mesma maneira que não quer ter um PC de gama baixa para o seu trabalho ou lazer, também não vai querer ter um smartphone de gama baixa no seu bolso. Isto é especialmente verdade nos tempos que correm, em que faz tudo, ou quase tudo, no smartphone.
É aqui que interage com os seus amigos e família. É aqui que tem a sua máquina fotográfica! Vê muitas das suas séries e filmes, ou joga alguns dos seus jogos favoritos. Aliás, é muito provavelmente aqui que controla as suas contas bancárias, e vários investimentos que tem vindo a fazer.
O smartphone tornou-se indispensável para o nosso dia a dia, e com a estagnação dos modelos de gama de entrada, e de gama média, tornou-se muito mais fácil justificar a compra de um topo de gama a sério.
Mas… Mais de 1500€? Acha possível?
Com os smartphones mais desejáveis a 1500€, é apenas uma questão de tempo até existir um novo encarecimento. Mas… Há espaço para isso? Consegue imaginar um iPhone 16 Pro Max ou um S24 Ultra a 1600€?
Pessoalmente, acredito que a única forma de aumentar os preços de forma agressiva, é com um tipo de aparelho um pouco diferente, como é o exemplo dos smartphones dobráveis. Porém, até aqui, este tipo de dispositivo tem falhado em convencer os consumidores.