Quando abres um livro, reparas logo no texto, na capa, no título. Mas há um detalhe discreto que passa despercebido à maioria: a margem branca em volta das páginas nos livros. Para muitos, parecem apenas espaço vazio, desperdício de papel ou até uma decisão estética. Mas a verdade é que as margens têm uma função muito mais importante e escondem um segredo que vem de séculos de história.
O nascimento da margem branca nos livros
As margens não são um capricho moderno. Já nos manuscritos medievais, copiados à mão por monges em mosteiros, os textos eram sempre cercados por espaços em branco.
Naquela época, o papel (ou pergaminho) era caro, e não se desperdiçava nada. Então porque razão deixar aquelas áreas sem escrita?
A resposta está no equilíbrio entre praticidade, conservação e legibilidade.
Espaço para notas e comentários
Na Idade Média e no Renascimento, as margens serviam como espaço para anotações, as chamadas glosas. Estudiosos, religiosos e leitores comuns escreviam comentários ao lado do texto principal, criando uma espécie de diálogo entre autor e leitor. Esse hábito transformou muitos livros em verdadeiros objetos vivos, cheios de interpretações e debates escritos nas bordas.
Proteção contra o desgaste
Outro motivo é mais prático: as margens ajudavam a proteger o texto central. Com o uso, as páginas desgastam-se mais nas bordas. Se o texto fosse escrito até ao limite, acabaria rapidamente ilegível. Assim, o espaço em branco atuava como uma “almofada de segurança” para garantir que o conteúdo principal permanecia intacto por muito mais tempo.
O segredo da legibilidade
Do ponto de vista da leitura, as margens também desempenham um papel essencial. Permitem que o olho descanse entre blocos de texto. Tornam a leitura mais agradável e fluida. Evitam a sensação de “claustrofobia visual” que teríamos se as letras ocupassem toda a página. É por isso que, até hoje, livros com margens generosas consideram-se mais fáceis de ler e até mais “sofisticados”.
Estética e status
Com o passar dos séculos, as margens começaram também a associar-se ao luxo.
Livros com margens amplas eram vistos como objetos de prestígio, sinalizando riqueza, bom gosto e cultura. Até hoje, algumas edições especiais mantêm margens largas como símbolo de qualidade editorial.
Curiosidades modernas sobre a margem branca nos livros
Muitos e-books imitam margens digitais para recriar a sensação de ler em papel.
Entretanto existe até uma “proporção ideal” para margens, conhecida como cânone de Van de Graaf, usada por tipógrafos para dar equilíbrio à página.
Em algumas culturas orientais antigas, como a chinesa, também se usavam margens para proteger o texto, mas com função adicional de marcar hierarquias entre diferentes partes do escrito.
As margens brancas dos livros nunca foram um desperdício de espaço. Elas nasceram para proteger o texto, facilitar a leitura e abrir espaço ao diálogo entre leitor e autor.
Hoje, continuam a ser parte fundamental do design editorial, carregando séculos de história e tradição.
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