Para muitos portugueses, o dia só começa depois de um café. É o primeiro gesto da manhã, quase automático: carregar na máquina, ouvir o som do expresso a sair e sentir o aroma que desperta. Mas por trás deste ritual diário pode estar um perigo invisível que quase ninguém imagina. A tua máquina de café que tens em casa pode estar a transformar-se num autêntico viveiro de bactérias e fungos e isso pode ter consequências para a tua saúde.
O café como ritual e armadilha
Portugal é um dos países da Europa onde mais se bebe café por pessoa. Para alguns, é combustível. Para outros, é prazer. Mas há algo que une todos: a confiança de que, em casa, o café é seguro. Afinal, não há barista mais cuidadoso do que nós próprios… certo? Errado.
As máquinas de café, sejam de cápsulas, automáticas ou tradicionais, funcionam com um elemento em comum: calor e humidade. Dois ingredientes perfeitos para criar o cenário ideal para microrganismos proliferarem. E o problema é que quase ninguém limpa a máquina como devia.
O que se acumula dentro da máquina de café que tens em casa
Reservatórios de água que ficam dias cheios, bandejas onde caem pingos de café e cápsulas usadas que ficam esquecidas. Tudo isto forma pequenos nichos onde bactérias e bolores se desenvolvem rapidamente.
Um estudo publicado na revista Scientific Reports analisou dezenas de máquinas de café domésticas e descobriu colónias de bactérias em mais de 60% delas. Outro estudo europeu encontrou fungos em compartimentos de cápsulas usadas de praticamente todas as máquinas testadas.
A maioria destas bactérias não é letal, mas pode provocar sintomas desagradáveis: dores de estômago, diarreia, náuseas e até reações alérgicas. Para pessoas com imunidade mais frágil, como idosos ou crianças, o risco é ainda maior.
O mito da água quente
Muitos acreditam que a água a ferver elimina todos os microrganismos. Mas a realidade é diferente. O café não chega a temperaturas suficientes para esterilizar completamente a máquina. Além disso, os resíduos acumulados nas superfícies internas não são expostos diretamente à água quente e é aí que os microrganismos sobrevivem.
Na prática, o café que bebes pode estar a passar por canais revestidos de biofilmes invisíveis: camadas de bactérias que se agarram às paredes húmidas e que resistem ao calor.
Sinais de alerta na tua máquina
- Alguns sinais podem indicar que a máquina de café precisa urgentemente de atenção:
- Cheiro estranho quando ligas a máquina, diferente do aroma habitual do café.
- Manchas de calcário ou bolor visíveis no reservatório de água.
- Café com sabor alterado, mais amargo ou metálico.
- Acumulação de pó ou resíduos húmidos na gaveta de cápsulas usadas ou na bandeja.
- Se já notaste algum destes sinais, é provável que a tua máquina esteja a precisar de uma limpeza profunda.
O risco escondido no reservatório de água
O reservatório de água é, talvez, o maior perigo silencioso. Muitas pessoas enchem-no e deixam a mesma água por vários dias. O que parece um simples depósito inofensivo pode transformar-se num verdadeiro “aquário” de microrganismos. A água parada, especialmente em ambiente morno, é um convite para bactérias como a Pseudomonas ou mesmo fungos microscópicos.
Cada vez que ligas a máquina, essa água contaminada percorre o sistema, passando por tubos e filtros, e acaba misturada com o teu café.
Como limpar corretamente (e não é só passar um pano)
Lava o reservatório todos os dias, não basta passar por água. Usa detergente suave e deixa secar completamente antes de voltar a encher.
Esvazia a bandeja de pingos. Assim nunca deixes acumular líquidos, porque é o ponto preferido dos fungos.
Limpa a gaveta das cápsulas. Cápsulas usadas criam um ambiente húmido e escuro, perfeito para bolor.
Faz descalcificação regular. Assim além de proteger a máquina, ajuda a remover depósitos onde as bactérias se escondem.
Entretanto não uses água de um dia para o outro. O ideal é encher sempre com água fresca.
Outros perigos escondidos
Além das bactérias, existe o risco da própria máquina libertar substâncias indesejadas. Máquinas antigas ou pouco cuidadas podem deixar resíduos de alumínio, plástico ou metais pesados no café. Quanto mais negligenciada estiver a manutenção, maior a probabilidade de o café deixar de ser apenas café.
Vale a pena manter o hábito?
Claro que sim. O café continua a ser seguro e saudável quando consumido com moderação. O problema não é a bebida em si, mas a forma como tratamos a máquina. Ignorar a manutenção é como beber água de uma garrafa que nunca foi lavada. O sabor pode ser bom, mas o risco está lá.
O café é parte da identidade portuguesa, mas a máquina que tens em casa pode ser um inimigo silencioso. Humidade, calor e resíduos criam o ambiente perfeito para bactérias e fungos. E o mito de que a água quente resolve tudo só ajuda a prolongar o problema.
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