Hidrogénio nos carros comuns? Não é assim tão simples

Como já deve ter percebido, com os carros elétricos a vender menos do que o previsto, o que por sua vez obrigou a Europa a recuar nas metas ambientais, começa a surgir novamente a conversa sobre o hidrogénio como alternativa viável para o setor automóvel.

Mas será que é mesmo?

A resposta curta? Nada mudou! Por isso, a não ser que algo de muito importante aconteça, o hidrogénio continua a ser uma miragem.

Há várias razões para isso.

Os elétricos não pegaram como se esperava?

Comecemos pelo contexto!

Os carros elétricos estão cada vez mais comuns nas nossas estradas, porém, estão também a atravessar uma fase de estagnação. Ou seja, a procura arrefeceu, os preços continuam elevados, a infraestrutura de carregamento não cresce ao ritmo necessário e o entusiasmo inicial deu lugar a (ainda) mais desconfiança.

Perante isto, e com toda uma indústria automóvel com a corda na garganta, a União Europeia decidiu relaxar as metas de redução de emissões a partir de 2035, dando mais espaço às marcas para manterem motores a combustão… e alimentando a ideia de que há tempo para explorar outras tecnologias, como os combustíveis sintéticos, ou até o hidrogénio.

Como sempre, o hidrogénio parece promissor, mas…

o hidrogénio é o futuro? sim, mas só às vezes!

Na teoria, o hidrogénio tem tudo para ser a solução perfeita. Enche-se um depósito em minutos, tem grande autonomia e só liberta vapor de água.

Mas na prática, os problemas são muitos e complicados.

1. Produção e eficiência energética. Nem todo o hidrogénio é amigo do ambiente!

A maior parte do hidrogénio que se produz atualmente não é “verde”. Ou seja, vem do gás natural, ou de outros combustíveis fósseis, o por sua vez implica emissões poluentes. Porquê?

É simples! Porque produzir hidrogénio através de eletrólise com energia renovável (a forma verdadeiramente limpa) ainda é caro e ineficiente.

Para se ter uma ideia, transformar eletricidade em hidrogénio, armazená-lo, transportá-lo e depois convertê-lo novamente em eletricidade dentro do carro implica perdas energéticas gigantescas.

Aliás, um elétrico a bateria usa essa mesma eletricidade de forma muito mais direta e eficiente.

2. Falta de infraestruturas

Atualmente, a rede de abastecimento de hidrogénio na Europa é praticamente inexistente. Em Portugal, então, é quase um conceito teórico.

Construir uma infraestrutura segura e funcional custa milhares de milhões, e ninguém quer dar esse passo sem garantias de que há mercado. Isto porque além do custo de construir algo de raiz, o hidrogénio perde muito do seu potencial energético na cadeia de distribuição.

O problema? Sem rede, não há carros. Sem carros, não há rede. É um ciclo vicioso difícil de quebrar.

3. É melhor para camiões e aviões

O futuro do hidrogénio parece estar mais nos transportes pesados, onde o tempo de abastecimento e o peso das baterias são desvantagens sérias. Ou seja, para camiões, comboios, navios e até aviões, o hidrogénio pode vir a ter um papel crucial.

Para o carro que usamos todos os dias? Difícil.

Conclusão

A ideia do hidrogénio no automóvel comum continua a ser apelativa em manchetes e conferências. Mas, na realidade, está longe de ser uma alternativa prática ou sustentável.

Assim, entre a falta de rede, os custos elevados e a ineficiência energética, tudo indica que, para já, o futuro continua a passar pelos elétricos a bateria, nos automóveis a combustão com alguma eletrificação à mistura, ou quem sabe, uma mudança para os combustíveis sintéticos, que podem ser utilizados em qualquer motorização já existente.

Em suma, o setor automóvel vai mesmo ter de encontrar um caminho mais limpo. A pergunta é se o hidrogénio alguma vez fará parte desse caminho para o condutor comum.

Nuno Miguel Oliveira
Nuno Miguel Oliveirahttps://www.facebook.com/theGeekDomz/
Desde muito novo que me interessei por computadores e tecnologia no geral, fui sempre aquele membro da família que servia como técnico ou reparador de tudo e alguma coisa (de borla). Agora tenho acesso a tudo o que é novo e incrível neste mundo 'tech'. Valeu a pena!

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