Estás numa reunião silenciosa, na sala de aula ou até no cinema e, de repente, ouve-se aquele som embaraçoso: o teu estômago começa a “falar”. O barulho pode ser discreto ou parecer um trovão interno, mas uma coisa é certa: quase toda a gente já passou por esta situação. Muitos associam imediatamente este som à fome. Mas a verdade é que o estômago faz barulho por várias razões e não é apenas porque está vazio. Para a ciência, este fenómeno chama-se borborigmo, e revela muito sobre como funciona o sistema digestivo.
O que é o borborigmo?
O termo pode parecer complicado, mas descreve algo simples: os sons produzidos pelo movimento de gases e líquidos no trato gastrointestinal. O estômago e os intestinos estão em constante atividade, mesmo quando não estás a comer.
Quando os músculos do estômago e intestinos se contraem para mover alimentos e líquidos, produzem sons semelhantes a gorgolejos.
Esses sons tornam-se mais audíveis quando o estômago está vazio, porque há menos comida a amortecer o ruído.
Portanto, o barulho não é sinal de que o corpo “pediu” comida naquele momento, mas sim um efeito natural do funcionamento digestivo.
O papel da fome
Ainda assim, a fome tem uma relação importante com estes sons. O corpo segue ritmos biológicos e, quando se aproxima a hora habitual das refeições, o cérebro envia sinais ao sistema digestivo para se preparar.
Esses sinais ativam as contrações dos músculos do estômago e intestinos, chamadas peristaltismo.
Ao mesmo tempo, é libertada grelina, a chamada “hormona da fome”, que estimula a atividade digestiva.
Como o estômago está vazio, o som do movimento é amplificado e facilmente audível.
É por isso que os barulhos são mais comuns em jejum ou quando já passou muito tempo desde a última refeição.
Outras causas para o estômago “falar”
Embora a fome seja a explicação mais conhecida, o borborigmo pode ter outras origens:
Digestão ativa: após uma refeição, o movimento para processar os alimentos também gera sons.
Excesso de gases: bebidas gaseificadas ou certos alimentos aumentam a presença de ar no estômago.
Intolerâncias alimentares: pessoas com intolerância à lactose ou ao glúten podem ter sons digestivos mais fortes.
Stress e ansiedade: o sistema nervoso influencia diretamente o trato gastrointestinal, podendo intensificar os barulhos.
Na maioria das vezes é algo normal, mas se os sons forem acompanhados de dor, diarreia ou outros sintomas persistentes, pode ser sinal de algum distúrbio digestivo.
Porque é que parece sempre acontecer nos piores momentos?
Não é coincidência que notes mais estes barulhos em situações de silêncio absoluto. O estômago não escolhe a altura, mas nós tornamo-nos mais conscientes quando estamos numa reunião ou numa sala de exames. Pequenos sons que passariam despercebidos em ambientes ruidosos tornam-se evidentes em espaços calados.
A ligação entre cérebro e intestino
O intestino é muitas vezes apelidado de “segundo cérebro”, porque tem um sistema nervoso próprio (o sistema nervoso entérico). Este comunica constantemente com o cérebro principal e influencia não só a digestão, mas também emoções e estados de humor.
Quando o estômago faz barulho de fome, não é apenas um processo físico: é também o cérebro a avisar que o corpo precisa de energia. Essa ligação explica porque é que, além do som, muitas vezes sentimos irritabilidade ou dificuldade de concentração quando estamos com fome.
Como reduzir os barulhos do estômago
- Se os “gorgolejos” te causam constrangimento, há algumas estratégias simples:
- Faz refeições mais frequentes e leves em vez de longos períodos de jejum.
- Evita bebidas gaseificadas antes de momentos importantes.
Mastiga devagar para reduzir a entrada de ar durante as refeições.
Mantém-te hidratado: beber água ajuda a suavizar os movimentos do estômago.
Controla o stress: técnicas de respiração podem reduzir a hiperatividade do sistema digestivo.
Curiosidade histórica sobre o estômago que faz barulho
Na Grécia Antiga, médicos já falavam dos “sons do ventre” como sinais da saúde do corpo. O próprio termo borborigmo vem do grego borborugmos, que imita o som do gorgolejo. É um exemplo de como os humanos sempre associaram estes barulhos ao funcionamento vital.
O barulho do estômago é muitas vezes motivo de vergonha ou piada, mas na verdade é apenas o corpo a funcionar como deve ser. Nem sempre significa fome pode estar ligado à digestão, à presença de gases ou até ao stress.