Denúncia anónima de médico em Portugal choca o Reddit

Nos últimos dias, um post anónimo no Reddit tem dado que falar. Um médico interno, que diz estar a realizar o seu estágio num hospital português, publicou um testemunho arrepiante sobre alegadas más práticas médicas dentro de um serviço hospitalar. O texto, publicado na comunidade r/Portugal, tornou-se rapidamente viral e reacendeu um tema que muitos preferem evitar: o que acontece quando um médico denuncia outro? Vamos olhar para tudo o que se disse nesta denúncia anónima de médico.

“É surpreendente que não morra mais gente internada neste serviço”

O autor do post descreve situações que deixaram a comunidade médica e o público em choque. Fala de relatórios de TAC ignorados, erros em antibióticos, doentes que ficaram sépticos sem diagnóstico atempado e até mortes que, segundo ele, poderiam ter sido evitadas.

“Um dos meus tutores até me disse um dia: ‘É surpreendente que não morra mais gente internada neste serviço. Eu não gostaria que fosse a minha mãe hospitalizada aqui.’”

No mesmo texto, o interno afirma ter assistido a decisões médicas “negligentes”, fármacos mal prescritos e falhas de enfermagem graves, como a omissão de antibióticos durante dias.

Apesar de admitir medo de represálias, deixou uma pergunta que rapidamente incendiou o Reddit:

“Com o que descrevo, devo eu fazer uma denúncia? E se fizer, as pessoas denunciadas têm acesso ao conteúdo?”

 A resposta da comunidade: “Faz denúncia anónima: mas protege-te”

As reações não tardaram. Médicos, utentes e curiosos responderam em massa. O conselho mais repetido foi simples: “IGAS, e-mail anónimo, sem dados pessoais, e nunca comente com ninguém.” Outros alertaram que denúncias internas ou à Ordem dos Médicos “acabam quase sempre abafadas” e podem expor o denunciante.

Um utilizador, identificado como profissional de saúde, escreveu:

“SIGA, denúncia interna e Ordem não são eficazes. Se denunciares, fá-lo anonimamente à IGAS. E não digas a ninguém.”

“A lei é estúpida e só serve para proteger quem faz asneira”

Entre centenas de comentários, houve quem lembrasse o caso real da médica de Faro, Diana Pereira, que denunciou 11 casos de alegadas más práticas em 2023.  Cinco foram confirmados pela IGAS, dois deram origem a processos disciplinares mas ela acabou processada por difamação e teve de se demitir.

“Mesmo que tenhas razão, podes ser punido por difamação. A lei só serve para proteger quem faz asneira”, escreveu um utilizador.

O medo, a culpa e o silêncio

O post tornou-se num espelho de algo mais profundo: o medo de falar. Vários médicos confirmaram que já presenciaram falhas graves, mas poucos se atrevem a denunciá-las. “Quem denuncia é afastado antes de conseguir provar alguma coisa”, lamentou um dos comentários mais votados.

Outros, pelo contrário, questionaram a veracidade do post: apontaram erros técnicos, termos desatualizados e até suspeitaram de motivação política. Mas mesmo os mais céticos admitiram: os exemplos descritos surgem como verosímeis demais para se ignorarem.

Afinal, para onde denunciar?

Independentemente da origem do relato, a discussão serviu para relembrar onde qualquer cidadão médico ou não pode denunciar más práticas em Portugal:

IGAS (Inspeção-Geral das Atividades em Saúde): para falhas graves, negligência ou irregularidades institucionais.

ERS (Entidade Reguladora da Saúde): para queixas relacionadas com segurança e qualidade dos cuidados.

Ordem dos Médicos: para casos específicos de má prática individual.

Todas aceitam denúncias anónimas, mas a maioria dos profissionais aconselha a proteger cuidadosamente a identidade e a evitar expor-se internamente.

Um grito silencioso

Entretanto a publicação encerra com uma frase que ecoa em quem trabalha em saúde:

“Às vezes duvido se não estou a exagerar. Mas quando ouço os outros dizerem o mesmo, penso que talvez não seja só impressão minha.” Seja verdadeiro ou não, o texto tornou-se um símbolo de frustração num SNS em crise onde o medo de falar é tão perigoso quanto o erro em si.

O que achas? Devem os médicos denunciar más práticas mesmo com risco de represálias?
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A ferver

Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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