Um novo estudo revelou que comer à hora errada pode ter um impacto maior na saúde cardiovascular do que a hora a que dormimos. Trata-se de uma descoberta particularmente relevante para pessoas que trabalham por turnos à noite.
Comer à hora errada é pior para do que dormir pouco!
Os investigadores verificaram que participantes que comiam apenas durante o dia conseguiram evitar os riscos cardiovasculares normalmente associados ao trabalho noturno. Entretanto mesmo com a mesma alimentação e o mesmo horário de sono, apenas aqueles que comeram durante a noite apresentaram aumentos na pressão arterial e noutros marcadores de risco. Assim isto indica que o “quando” se come pode ser mais importante para o coração do que se pensava até agora.
Hora da refeição vs. a hora de dormir
Segundo investigadores do Mass General Brigham, a hora das refeições pode ter um papel mais relevante na proteção do coração do que o horário de sono. O estudo, publicado na revista Nature Communications, mostra que evitar comer durante a noite pode reduzir os riscos típicos do trabalho por turnos, como doenças cardíacas.
Desalinhamento do relógio biológico e risco cardiovascular
Estudos anteriores em animais já sugeriam que alinhar a alimentação com o relógio biológico ajudava a mitigar os efeitos de estar acordado à noite. Assim esta foi a primeira vez que a ideia foi testada de forma controlada em humanos.
Durante duas semanas, 20 jovens saudáveis participaram num estudo em internamento no Brigham and Women’s Center for Clinical Investigation. Assim foram mantidos sem acesso a relógios, janelas ou eletrónica. Qualquer coisa que pudesse indicar a hora do dia.
Os participantes passaram por uma rotina laboratorial chamada “protocolo de rotina constante”, que separa os efeitos do relógio biológico dos do ambiente. Fizeram 32 horas seguidas acordados, com luz fraca, mantendo a mesma posição corporal e ingerindo pequenos lanches a cada hora.
Entretanto, simularam um turno noturno. Metade comeu durante a noite (como acontece com a maioria dos trabalhadores por turnos), e a outra metade comeu apenas durante o dia. Depois repetiram o protocolo inicial para medir os efeitos da alimentação no risco cardiovascular.
Importante: ambos os grupos dormiram exatamente da mesma forma, com o mesmo número e horário de sestas – por isso, as diferenças observadas não se devem ao sono.
Comer só durante o dia
No final, os investigadores analisaram indicadores de risco cardiovascular como a tensão arterial, o sistema nervoso autónomo e um marcador chamado inibidor do ativador do plasminogénio-1 (relacionado com risco de coágulos sanguíneos).
Entretanto os participantes que comeram durante a noite apresentaram aumento nos fatores de risco depois do turno simulado. Já os que comeram apenas durante o dia não mostraram essas alterações. Isto mesmo tendo ingerido exatamente os mesmos alimentos.
Apesar do número reduzido de participantes e da curta duração (duas semanas), o estudo é bastante robusto por controlar com precisão variáveis como sono, alimentação, luz, postura e atividade. Isso permite isolar com confiança o impacto da hora das refeições.
Quem mais pode beneficiar com o facto de não comerem à noite são:
- Trabalhadores por turnos
- Pessoas com insónias ou distúrbios do sono
- Quem tem horários de sono irregulares
- Viajantes frequentes que atravessam fusos horários