Estás ao multibanco, concentrado: seleccionas o valor, a máquina pede o PIN, e ao tocar no teclado sentes algo estranho. As teclas parecem pegajosas. Antes que tenhas tempo de pensar muito, aparece alguém ao teu lado com um sorriso solícito e uma frase pronta: “Precisa de ajuda? Tenho uma toalhita.” Em segundos, a mão que te ofereceu a ajuda passa próxima do teclado, a tua credibilidade baixa e, quando dás conta, o cartão já não está no teu bolso ou alguém já memorizou os 4 dígitos. É assim que funciona um dos golpes mais ingénuos e eficazes das ruas: combinação de adulteração física + engenharia social. Agora já percebeste porque andam a pôr coisas doces nos teclados do multibanco.
Coisas doces nos teclados do multibanco: não é ficção nem caso isolado
Trata-se de um esquema simples, baixo custo e com elevada taxa de sucesso porque explora dois pontos: a nossa inclinação para aceitar ajuda (especialmente quando algo parece “estragado”) e a pressa de quem usa caixas automáticas. Um casal, uma fila com gente à espera, um teclado ligeiramente “pegajoso” e o golpe está montado.
O modus operandi é quase sempre o mesmo. Primeiro, alguém aplica uma substância (cola fraca, resíduo pegajoso ou fita transparente) nas teclas do multibanco. O objectivo não é impedir o uso. É apenas fazer com que a pessoa note algo “anómalo”. A segunda fase é a distração: um cúmplice, ou mesmo o próprio autor, aproxima-se com uma toalhita, lenço ou um gesto de “ajuda” e oferece-se para limpar. Enquanto as mãos se aproximam, outro elemento observa o PIN, memoriza os movimentos ou recolhe o cartão no momento em que a vítima afasta o corpo para acomodar a ajuda. Noutras variantes, o burlão aplica a substância e, quando a vítima tenta limpar com o próprio lenço, distrai-a com conversa e um segundo criminoso faz o levantamento com um cartão clonado.
Porquê tão eficaz?
Porque mistura o físico com o psicológico: um sinal de “problema” no equipamento gera confiança imediata em quem “oferece” a solução. E como a maioria das pessoas quer ser educada e evitar conflito, raramente recusa ajuda num espaço público. Para além disso, em multitarefas mentais, atenção dividida entre fila, sacos, telefone e família, o PIN é digitado com pouca consciência, logo mais fácil de memorizar.
Mas não te alarmes sem saber o que fazer. Aqui tens sinais claros de que algo pode estar a acontecer:
- Teclado que parece com resíduos, cola seca, fita ou sensação estranha ao toque;
- Pessoa demasiado próxima a oferecer “ajuda”;
- Alguém insiste em limpar o teclado com a tua própria toalhita;
- Pessoa que distrai com conversa quando estás a digitar;
- Presença de um cúmplice ou pessoa a observar de forma incomum;
E agora o mais importante: como agir para não cair no esquema (checklist prático):
- Nunca uses toalhitas de estranhos. Recusa com firmeza: diz “Obrigado, consigo eu” e afasta-te.
- Se o teclado estiver sujo, pede para encerrar a sessão (cancela) e usa outro multibanco dentro da agência ou loja. Não digites o PIN se houver qualquer anomalia.
- Cobre o PIN com a mão (tapa com o corpo ou com o cartão) enquanto digitas; faz sempre este gesto automático.
- Usa métodos contactless quando possível. Se o valor for pequeno, opta por pagar por cartão contactless ou por app (MB Way/contactless).
- Faz atenção à fila. Mantém distância de quem está atrás; um bom espaço reduz a possibilidade de alguém ver o PIN.
Este esquema é uma lição clara: as burlas mais perigosas são as mais simples. Não precisas de ser especialista para proteger a tua conta. Basta um pouco de desconfiança saudável e estes hábitos automáticos: cobrir o PIN, recusar ajuda, usar contactless e evitar máquinas suspeitas.
Precisamos dos nossos leitores. Segue a Leak no Google Notícias e no MSN Portugal. Temos uma nova comunidade no WhatsApp à tua espera. Podes também receber as notícias do teu e-mail. Carrega aqui para te registares É grátis!