A cena é sempre a mesma: inseres o cartão, fazes a operação e, no fim, o multibanco devolve o cartão… mas muito devagar. Alguns segundos que parecem uma eternidade. É só uma máquina a “pensar”? Ou será que alguém tentou prender o teu cartão para clonar depois? A resposta tem dois lados: por vezes é uma situação perfeitamente normal; outras vezes é um sinal claro de fraude. O problema é que, nos segundos em que esperas quando o cartão multibanco sai devagar, já pode estar a acontecer alguma coisa por isso convém saber distinguir e agir rápido.
Quando o cartão multibanco sai devagar
Antes do pânico, há razões técnicas ou funcionais para um cartão ser devolvido com lentidão:
Leitura do chip: se o terminal tem dificuldade em ler o chip (contacto imperfeito, sujidade), faz verificações extras e pode devolver o cartão mais devagar.
Verificação de segurança: o ATM pode fazer validações adicionais (conferência de rede, antifraude) e segurar o cartão até a verificação terminar.
Problemas mecânicos simples: mecanismos de ejeção gastam-se; às vezes a mola está com pouca força ou há atrito no slot.
Configuração do terminal: alguns terminais colocam pequenos atrasos programados no retorno do cartão por motivos operacionais.
Estas situações são comuns e, na maioria das vezes, inofensivas. Mas há cenários onde “devagar” significa perigo e aí convém saber o que está em jogo.
Quando slow ejection é sinal de burla (e como funciona o esquema)
Existem burla(s) que tiram partido precisamente desse intervalo de segundos, e são bastante simples de executar para quem sabe o que faz:
1. Card trapping (prender o cartão)
O burlão instala um dispositivo ou uma peça dentro da ranhura que retém o cartão parcialmente. Do exterior parece que o cartão não saiu, mas ficou preso. O objetivo: o cliente vai embora (ou pede ajuda) e o burlão retira o cartão mais tarde, clonando-o ou usando-o com o PIN obtido de outra forma.
2. Skimming + câmera
Em conjunto com a retenção do cartão, os burlões colocam uma pequena câmara escondida ou um teclado falso (overlay) para registar o PIN enquanto tentas digitar. Quando o cartão for recuperado, têm tudo: número + PIN.
3. Shimming (ataque ao chip)
Mais sofisticado e raro, um dispositivo fino (shim) é colocado na ranhura para captar os dados do chip. A combinação com camuflagem de teclado torna o golpe eficaz mesmo em chips EMV.
4. Intervenção humana
Em zonas com muita circulação, um cúmplice observa, distrai-te ou “ajuda-te” enquanto outro executa o golpe. O atraso dá tempo para o burlão validar se a intervenção teve sucesso.
Sinais de alerta que não deves ignorar
Se alguma destas situações acontecer, fica atento a sinais que indicam tentativa de burla:
- O cartão fica meio fora da ranhura, com a parte frontal visível e difícil de puxar.
- Há peças estranhas, soltas ou descoladas à volta do slot (tenta ver se a moldura está solta ou com cola); overlays no teclado.
- Há uma câmara pequena/um objecto acima do ecrã, numa posição pouco natural.
- Teclas com desgaste desigual, brilho estranho nas que são frequentemente usadas.
- Pessoas em posição suspeita à volta, “ajudando” sem pedido, ou muito tempo à espera atrás de ti.
O que fazer na hora (passos práticos e rápidos)
Não saias do local. Assim se o cartão ficar preso, não vás embora. Fica por perto e não aceites “ajuda” de desconhecidos.
Tapa o teclado com a mão ao digitar e, se necessário, ao recuperar o cartão; isso previne que câmaras ou olhares vejam o PIN.
Inspeciona visualmente a ranhura e o teclado antes de inserir o cartão: mexe suavemente a moldura; se algo se soltar, desiste e vai para outro ATM.
Se o cartão ficar retido (engolido) liga imediatamente para o número de emergência do teu banco (geralmente no talão/website) e bloqueia o cartão. Não confies em mensagens ou números que pessoas “ajudantes” te disserem.
Pede comprovativo / talão e mantém o recibo. Se perderes dinheiro, o talão ajuda na reclamação.
Se vires um dispositivo estranho, tira foto (se for seguro fazê-lo) e contacta a polícia/local do banco. Não manuseies objetos suspeitos para não destruir prova.
Como agir se te roubarem ou clonarem o cartão
Bloqueia o cartão imediatamente através da app/banco ou telefone de atendimento.
Regista a ocorrência na polícia e guarda o relatório.
Informa o banco para abrir processo de estorno/contestação; quanto mais cedo, maiores as hipóteses de recuperar o dinheiro.
Muda o PIN e monitora movimentos da conta; muda também senhas de serviços ligados.
Pede novo cartão e, se possível, opta por cartões com funcionalidades contactless/biométricas.
Como prevenir: dicas simples que realmente funcionam
Prefere ATMs dentro de bancos ou em locais bem iluminados e com movimento.
Cobre o teclado sempre que digitaste o PIN.
Evita usar multibancos isolados ou temporariamente instalados (eventos, festas).
Se podes, usa levantamentos pela app ou contactless/ligações sem inserir cartão.
Muda o PIN regularmente e evita sequências óbvias.
Repara em sinais de fraude (peças soltas, toma nota do número do terminal) e denuncia.
Nem sempre um cartão multibanco que sai devagar é sinal de crime. Assim pode ser só um terminal cansado ou um cheque extra de segurança. Mas a lentidão aumenta o risco porque dá tempo ao burlão. Saber identificar os sinais, tapar o teclado, não aceitar ajuda e agir imediatamente (bloquear card, contactar banco, polícia) faz a diferença entre perder dinheiro e escapar ileso.
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