O WhatsApp acaba de receber uma funcionalidade que está a dar que falar. Na prática parece ajudar mas a verdade é que a partir de agora conseguem aceder às suas mensagens por ler e apresentar um resumo em formato de lista. A promessa é simples: poupar tempo. No entanto o custo pode ser alto: a sua privacidade. Mas quem é que anda a ler as suas mensagens no WhatsApp?
Andam a ler as suas mensagens no WhatsApp e ninguém lhe disse
A funcionalidade já está disponível para alguns utilizadores. Ao abrir uma conversa com mensagens não lidas, aparece um ícone com a indicação “Resumir Privadamente”. Ao tocar nesse botão, o utilizador recebe um resumo em tópicos das mensagens que ainda não leu.
Tudo isto é feito com recurso ao sistema Private Processing, um tipo de processamento “seguro” nos servidores da Meta, que utiliza uma tecnologia chamada Trusted Execution Environment (TEE). Neste ambiente isolado, as mensagens são desencriptadas, resumidas e depois segundo a Meta imediatamente descartadas.
Uma encriptação… com exceções
A Meta garante que a encriptação de ponta a ponta continua ativa. No entanto, essa segurança é temporariamente suspensa dentro do TEE, para que a IA consiga processar as mensagens. Fora desse ambiente, os dados voltam a estar protegidos. Ou pelo menos assim nos dizem.
Mas mesmo os sistemas mais seguros não estão imunes a vulnerabilidades técnicas ou pressões legais. O histórico da Meta com a privacidade dos utilizadores não é propriamente um exemplo de confiança: até 2021, os backups do WhatsApp eram armazenados sem encriptação no Google Drive e iCloud.
O que está realmente em jogo?
Embora a Meta afirme que não guarda os resumos nem lê diretamente as conversas, é importante notar que este tipo de tecnologia recolhe metadados como o número de vezes que usa a função, em que conversas, com que frequência e em que contexto. Estes dados podem ser usados para criar perfis de comportamento e hábitos do utilizador.
O problema é que, ao permitir que uma IA analise o conteúdo das conversas, mesmo que de forma resumida, abrimos a porta a um novo nível de vigilância digital. O que começa por ser um “resumo útil” pode facilmente evoluir para respostas automáticas, tradução em tempo real ou análise cruzada entre conversas, tudo em nome da conveniência.
É mesmo opcional?
A Meta garante que a funcionalidade é opcional. No entanto, como acontece em tantos outros casos, estas ferramentas ativam-se muitas vezes de forma subtil. Um pequeno botão que aparece de forma discreta hoje pode tornar-se um elemento persistente amanhã. E a opção para desativar? Normalmente está escondida em menus profundos que poucos vão explorar.