Hoje em dia, devolver algo à Amazon é quase banal. A própria plataforma facilita imenso o processo. Ou seja, clicas em dois botões, escolhes um ponto de entrega e pronto. Às vezes até parece fácil demais.
Mas, já pensaste no que acontece realmente àquele produto depois de o deixares no balcão da UPS ou no cacifo do supermercado?
A resposta curta é simples. A Amazon tenta reaproveitar tudo o que conseguir como é óbvio. É dinheiro que tem de ser “recuperado”. Mas, a resposta longa é bem mais interessante.
Ou seja, depois da devolução, o produto não vai diretamente para uma prateleira à espera de outro cliente. Isto porque, primeiro é juntado a milhares de outras devoluções e segue para um centro de devoluções da Amazon. Sim, existem espaços dedicados exclusivamente a analisar tudo o que volta atrás. Roupa, eletrónica, móveis, pequenos gadgets, passa tudo pelo mesmo processo base.
Depois, cada artigo é inspecionado. Se estiver em perfeito estado, sem sinais de uso e com a embalagem intacta, pode voltar a ser vendido como novo. Entretanto, se houver pequenos sinais de uso, mas estiver funcional, entra no circuito da Amazon Resale, o antigo Amazon Warehouse, onde aparece classificado como “Como novo”, “Muito bom”, “Bom” ou “Aceitável”.
É aqui que aparecem muitos dos bons negócios que vês no site.
Entretanto, quando um produto já não cumpre os critérios de venda normal, a história muda. Alguns são reparados e vendidos em lotes a empresas especializadas em revenda. Outros seguem para doações através de parceiros como a Good360. E quando nada disso faz sentido, o destino é a reciclagem.
A Amazon diz que este processo faz parte da sua estratégia de sustentabilidade, embora nem sempre seja fácil perceber o real impacto disso à escala gigante em que opera.
Há ainda outro caminho menos conhecido.
Muitos artigos devolvidos acabam em paletes de liquidação. São caixas enormes cheias de produtos misturados, devoluções, excedentes de stock e artigos descontinuados, vendidas a peso ou em lote a revendedores. É um negócio paralelo enorme, onde algumas pessoas fazem dinheiro e outras ficam com montes de tralha difícil de escoar.
E sim, é possível comprar produtos que já foram devolvidos. Não o teu próprio, claro, mas os de outros clientes. Há até histórias de pessoas que seguiram devoluções com AirTags e acabaram por reencontrar o mesmo produto meses depois à venda por um liquidatário. Parece exagero, mas diz muito sobre a complexidade do circuito.
A Amazon garante que todos os artigos revendidos passam por testes básicos, sobretudo no caso da eletrónica. Estamos a falar de equipamentos ligados, verificados e repostos nas definições de fábrica. O estado do produto é sempre indicado na página, por isso convém ler bem antes de comprar. Muitas vezes o desconto compensa. Outras vezes, nem por isso.
Em épocas festivas, como o Natal, a política de devoluções muda. O que explica o pico brutal de artigos a regressar aos armazéns.
Mas… O problema é que este modelo tem custos enormes. Tantos que alguns vendedores já abandonaram a plataforma por não conseguirem lidar com o volume de devoluções. A Amazon também já enfrentou processos judiciais relacionados com reembolsos e devoluções mal resolvidas.
No fundo, quando devolves algo à Amazon, esse produto entra numa espécie de limbo logístico. Pode voltar à prateleira, pode acabar num lote de revenda, pode até acabar doado ou reciclado. O que é certo é que quase nunca desaparece logo do mapa.
Em suma, da próxima vez que vires um “Como novo” com um desconto apetecível, lembra-te. Alguém já o teve nas mãos e decidiu que não era para ele.
