Embora os efeitos dos adoçantes artificiais na saúde continuem a ser alvo de discussão, uma nova investigação aponta para uma utilidade inesperada destes compostos no combate à resistência aos antibióticos.
Adoça o café e destrói bactérias? O poder dos adoçantes artificiais
Investigadores da Brunel University, no Reino Unido, realizaram experiências laboratoriais para analisar a forma como a sacarina, um adoçante muito utilizado, interage com bactérias. Já se sabe que este composto pode afetar o equilíbrio das bactérias intestinais, incluindo algumas benéficas, mas o objetivo passou por se perceber até que ponto essa interação se poderia aproveitar de forma terapêutica.
Os testes revelaram que a sacarina interfere de forma significativa na estrutura de várias estirpes bacterianas, dificultando o seu crescimento e capacidade de multiplicação. Além disso, o composto danifica as paredes celulares das bactérias. Isto facilita a penetração de antibióticos e enfraquece os seus mecanismos de defesa.
Durante o estudo, testou-se a sacarina contra algumas das bactérias mais resistentes aos medicamentos existentes. São exemplo disso a Staphylococcus aureus e a Escherichia coli. Apesar de a eficácia variar consoante o tipo de bactéria, os resultados iniciais sugerem que o composto tem potencial para ser ajustado e usado em diferentes cenários.
Numa fase posterior, os cientistas criaram um penso cirúrgico feito a partir de sacarina. Em testes realizados com pele de porco, este penso mostrou-se mais eficaz do que materiais convencionais, como a prata, na redução da presença de bactérias. A sacarina demonstrou, assim, uma capacidade surpreendente no combate a infeções.
Atualmente, o desenvolvimento de novos antibióticos é um processo moroso e dispendioso
O facto de a sacarina já ser amplamente utilizada e apresentar propriedades antimicrobianas abre portas a uma nova abordagem terapêutica, que poderá não só eliminar bactérias resistentes, mas também aumentar a eficácia dos antibióticos existentes.
A resistência aos antibióticos é um problema grave e em crescimento, com milhões de mortes anuais associadas a infeções que já não respondem aos tratamentos habituais. Apesar de alguns avanços, os microrganismos continuam a adaptar-se mais rapidamente do que a medicina consegue acompanhar.
Embora os testes estejam ainda numa fase preliminar, a sacarina pode revelar-se uma ferramenta valiosa nesta corrida. No entanto, será essencial compreender melhor os seus efeitos no organismo humano, uma vez que nem todos os impactos dos adoçantes artificiais são necessariamente positivos.