A crise da memória RAM tem água no bico. Coisa estranha!

A conversa anda a circular em vários grupos e fóruns, e faz todo o sentido pegar nisto de frente. Esta história da “seca” de DRAM não apareceu do nada, mas também não foi tão natural quanto algumas empresas querem fazer parecer.

A IA não nasceu ontem. Há anos que se fala de machine learning, aceleração por hardware, servidores carregados de memória e GPUs a sério. Nada disto é novo. O que é novo é a velocidade absurda com que, de repente, o mercado ficou “sem memória”.

Parece estranho? É porque é mesmo.

A crise da memória RAM tem água no bico. Coisa estranha!

ram, memória, 16 GB de RAM

A narrativa “oficial” diz-nos que a procura explodiu por causa da IA. Certo. Mas essa explosão não devia ser instantânea. A adoção de IA tem vindo a crescer de forma relativamente gradual. Não faz sentido que, de um momento para o outro, faltem chips, falte DRAM, falte tudo.

Isto a menos que alguém tenha decidido fechar a torneira.

Aliás, esta é uma temática que nós já mencionámos há alguns dias atrás. As grandes fabricantes de memória começaram a fechar a torneira no lado do COVID, e de facto, nunca a voltaram a abrir de forma a criar um efeito de “procura muito maior que a oferta”.

Dito isto, é difícil não levantar a sobrancelha quando vemos fabricantes a reduzir linhas de produção, a matar marcas de consumo, a acabar com gamas inteiras de RAM e SSDs para “focar tudo na IA”. Isto não é apenas adaptação ao mercado. É controlo de oferta para fazer dinheiro.

Quando limitas artificialmente a produção abaixo da procura, os preços sobem. Simples. E quando tens meia dúzia de gigantes a dominar o mercado da DRAM, não é preciso combinar nada em papel para o efeito ser exatamente o mesmo de um cartel.

Depois entra o fator geopolítico, que só deita mais gasolina na fogueira.

A guerra tecnológica entre EUA e China mudou tudo. Quando os Estados Unidos começaram a bloquear o acesso da China a hardware de IA, ficou claro que computação deixou de ser só negócio. Ou seja, passou a ser arma estratégica. Tal como energia, armamento ou semicondutores.

A partir daí, governos começaram a meter dinheiro, empresas começaram a correr, e toda a gente quis ser “AI-first”. Mesmo quem não sabe bem para quê. Hoje, qualquer empresa quer IA, qualquer startup precisa de servidores, e até em casa já há malta a montar máquinas para brincar aos modelos locais.

O problema é, novamente, que esta corrida não começou ontem. Os pedidos às fábricas já vinham de trás. Durante meses, talvez mais de um ano, o mercado foi sendo alimentado com stock existente. Até ao dia em que esse stock acabou.

E agora? Agora o consumidor comum não tem hipótese. PCs mais caros, upgrades absurdos, kits de RAM a preços que não fazem sentido. Ao ponto de já haver quem faça contas e chegue a uma conclusão curiosa. Mais vale pagar 20 euros por mês por um serviço qualquer com IA do que gastar centenas num upgrade de memória que, há dois anos, custava metade.

Conclusão

Em suma, se houve conspiração ou apenas oportunismo bem jogado, provavelmente nunca vamos saber. Um motivo leva a outro, que leva a outro, e a bola cresce. Mas uma coisa é certa. Esta crise não é só técnica. É económica, política e estratégica.

Mas, como quase sempre, quem paga a fatura não são as empresas que anunciam lucros recorde. Somos nós.

Nuno Miguel Oliveira
Nuno Miguel Oliveirahttps://www.facebook.com/theGeekDomz/
Desde muito novo que me interessei por computadores e tecnologia no geral, fui sempre aquele membro da família que servia como técnico ou reparador de tudo e alguma coisa (de borla). Agora tenho acesso a tudo o que é novo e incrível neste mundo 'tech'. Valeu a pena!

Em destaque

Leia também