Ainda faz sentido falar em telemóveis low-cost?

Lembras-te de quando comprar um telemóvel “low-cost” era, basicamente, um atestado de sofrimento? Há dez ou até cinco anos, optar pelo modelo mais barato da loja significava aceitar um ecrã com pixéis visíveis a olho nu, uma câmara que transformava pessoas em aguarelas desfocadas e um sistema que encravava só de abrir a lista de contactos. Mas se olhares para o mercado atual, a história é completamente diferente. E isso levanta uma questão pertinente: ainda se justifica usar o termo telemóveis “low-cost” com a carga negativa que ele acarreta?

Telemóveis low-cost: o Grande Nivelamento Tecnológico

A resposta curta é: provavelmente não. O termo “low-cost” (baixo custo) está muitas vezes associado mentalmente a “low-quality” (baixa qualidade). E é aqui que a narrativa falha em 2024/2025.

Entretanto hoje, vivemos uma democratização brutal dos componentes. O que antes era exclusivo da gama premium, agora é standard na gama de entrada:

Ecrãs: Já encontras painéis AMOLED e taxas de atualização de 90Hz ou 120Hz em equipamentos abaixo dos 200/250 euros.

Carregamento: A velocidade de carregamento de alguns “low-cost” chineses humilha a de certos topos de gama que custam quatro vezes mais.

Design: O plástico barato deu lugar a acabamentos que, ao toque e ao olhar, parecem premium.

O fosso entre um telemóvel de 200 euros e um de 1200 euros existe, claro. Mas o fosso na “usabilidade diária” diminuiu drasticamente. Para enviar mensagens, ver redes sociais, tirar fotos decentes à luz do dia e jogar jogos casuais, a diferença de performance já não justifica, para a maioria das pessoas, a diferença abismal de preço.

A Era do “Custo-Benefício” vs. “Low-Cost”

Talvez o problema seja semântico. Quando dizes a alguém “comprei um telemóvel low-cost”, parece que compraste algo descartável. Mas a realidade é que compraste um computador de bolso perfeitamente competente.

As marcas perceberam isso. A Xiaomi, a Honor, a Motorola e até a Samsung (com a série A) elevaram tanto a fasquia que o segmento de entrada fundiu-se com a gama média.

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Hoje em dia, faz mais sentido falar em “Gama Essencial” ou “Reis do Custo-Benefício”. O termo “barato” deixou de ser um aviso de perigo para passar a ser uma escolha racional.

Onde é que a diferença ainda se nota?

Para sermos justos, se és um power user, sabes que o corte de custos tem de acontecer em algum lado. Normalmente, acontece em três pilares:

Câmaras em situações extremas: Fotografia noturna e zoom de longo alcance.

Materiais de construção: Vidro vs. Plástico (embora o plástico seja mais resistente a quedas!).

Suporte de Software: Enquanto um topo de gama te garante 5 a 7 anos de atualizações, os mais baratos costumam ficar-se pelos 2 ou 3.

No entanto, pergunta a ti mesmo: isso vale os 800 euros de diferença? Para muitos leitores da Leak, a resposta será “não”.

Mudar a Mentalidade

Está na altura de deixarmos de olhar para os telemóveis mais acessíveis com desdém. O mercado amadureceu. Os processadores de gama de entrada são rápidos, as memórias são vastas e as baterias duram mais do que nos topos de gama.

Talvez o termo “low-cost” deva ser reformado. Porque, honestamente, quando tens um equipamento na mão que é rápido, bonito e tira boas fotos, pouco importa se custou 200 euros. A qualidade deixou de ter um preço proibitivo.

Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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