Já pensaste como seria abrir a Netflix ou a Disney+ e, em vez de veres um preço mensal fixo, te aparecer um aviso: “o teu saldo de 5 horas de streaming está prestes a acabar”? Parece uma distopia, mas não está tão longe assim da realidade. Há pouco tempo, discutiu-se no mundo dos videojogos a ideia de “pagar por hora” em vez de comprar um título completo. Em vez de 70€ à cabeça, cada jogador poderia ser cobrado pelo tempo efetivo de jogo. À primeira vista até pode soar justo. Ou seja, pagas apenas pelo que usas. Mas agora imagina este mesmo modelo aplicado ao streaming de filmes e séries. Faz sentido o streaming pago à hora?
O pesadelo do “saldo de horas”
Hoje habituámo-nos a pagar uma mensalidade e ter acesso ilimitado. Podes maratonar uma temporada inteira numa noite ou ver meia dúzia de filmes no mesmo fim de semana. Mas se o modelo por hora entrasse em vigor, cada episódio que vês seria literalmente uma fatura em contagem decrescente.
45 minutos de série? 1 hora debitada.
Filme de 2h30? São quase 3 horas faturadas.
Passaste tempo no menu a decidir o que ver? Atenção, também pode contar.
E de repente, aquela sensação de liberdade que fez o streaming substituir a TV por cabo transforma-se numa ansiedade permanente: cada clique no “play” significa mais uma fatia da carteira a desaparecer.
Porque é que isto pode acontecer
As plataformas estão à procura de novas formas de rentabilizar utilizadores. O aumento de preços, os planos com anúncios e as restrições às partilhas de conta já mostraram que o setor não tem medo de testar limites. Se nos videojogos a ideia de “alugar tempo de jogo” já foi debatida, quem garante que no streaming não vai acontecer o mesmo?
Imagina uma Netflix a dizer: “não quer pagar 15€ por mês? Temos um plano por hora: só 0,50€ para veres o que quiseres durante 60 minutos.” Parece barato, não é? Mas o que começa como uma “opção económica” pode tornar-se o novo padrão e, no fim do mês, descobres que gastaste mais do que com a mensalidade normal.
A psicologia por trás do streaming pago à hora
É aqui que está a armadilha. O modelo por hora joga com a nossa perceção de valor. Tal como nas chamadas telefónicas antigas ou na internet paga ao minuto, a ilusão de controlo transforma-se em contas inesperadas. “Só vou ver mais 10 minutos” rapidamente vira 2 horas.
Além disso, este modelo cria um efeito perverso: em vez de relaxares e desfrutares de um episódio, vais estar a olhar para o relógio. O streaming deixa de ser entretenimento para virar uma corrida contra o tempo.
Impacto nos utilizadores
- Ansiedade: a experiência de ver séries deixa de ser confortável.
- Consumo fragmentado: muitas pessoas iam parar a meio de episódios para poupar saldo.
- Desigualdade: quem tem mais dinheiro continua a maratonar; quem não tem, fica limitado.
- Pirataria em alta: tal como já aconteceu no passado, sempre que o modelo legal fica demasiado caro ou restritivo, a pirataria volta a ser a alternativa tentadora.
Pode mesmo acontecer?
Não é impossível. Já existem serviços experimentais na Ásia que testam o pay-per-view por minuto em conteúdos premium. E com o avanço das plataformas suportadas por IA e cloud, cobrar por tempo é tecnicamente simples. Basta medir quanto tempo cada utilizador esteve ligado.
As grandes empresas de streaming estão sempre à procura de novas fontes de receita. E se este modelo começar como “plano alternativo” para quem só vê pouco, pode rapidamente transformar-se na norma.
O modelo de pagar por hora pode parecer um detalhe curioso nos videojogos, mas se saltar para o streaming, transforma-se num pesadelo de bolso. O que hoje é liberdade ilimitada pode amanhã ser uma prisão temporizada, onde cada minuto custa.
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