A burla do pagamento parcial nas lojas: o golpe que pode sair caro

Recebes uma mensagem que parece a oportunidade da tua vida. A fotografia mostra exatamente aquilo que procuravas: uma consola esgotada em todo o lado, aquela televisão que andas a namorar há meses, ou até um móvel raro que encaixa na perfeição na tua sala. O preço? Aparentemente justo, às vezes até demasiado tentador. O vendedor acrescenta a cereja no topo do bolo: “Reserva já com 20% do valor e garantimos o envio em 3 dias.” Mas será mesmo assim? É aqui que começa a burla do pagamento parcial.

A burla do pagamento parcial nas loja: o golpe que pode sair caro

A pressa instala-se. Se não fores tu a reservar agora, alguém vai aproveitar antes. Pagas a caução, recebes um comprovativo automático, respiras de alívio. Mas depois… nada. O site desaparece do ar, o vendedor nunca mais responde, e o IBAN para onde enviaste o dinheiro passa a constar em listas negras de burlas.

Este esquema de “pagamento parcial” não é novo, mas tem evoluído a uma velocidade assustadora. Hoje, já não se trata de sites mal feitos com erros ortográficos evidentes. Os burlões criam clones quase perfeitos de lojas legítimas, registam domínios muito semelhantes aos originais e até enchem as páginas com comentários falsos de “clientes satisfeitos”. Em muitos casos, simulam estatísticas de vendas em tempo real para reforçar a sensação de confiança.

A mecânica é simples e eficaz. O burlão cria uma loja online ou um anúncio numa plataforma de classificados. Usa fotografias reais, muitas vezes roubadas de sites de grandes retalhistas. O preço surge ligeiramente abaixo da média, o suficiente para despertar a sensação de negócio imperdível. Depois, aparece o botão mágico: “Reservar já”. E é aí que o anzol é lançado.

O email de confirmação chega

Quando pagas, normalmente por transferência, MB Way ou cartão, recebes um email automático de confirmação. Tudo parece legítimo. Mas dias depois não há qualquer envio. Em muitos casos, o domínio do site desaparece sem deixar rasto. Noutras situações, chega um produto completamente diferente, de qualidade miserável, uma tática de substituição que torna quase impossível reclamar.

Os sinais de alerta estão lá, mas passam despercebidos a quem está sob pressão de “não perder a oportunidade”:

Mensagens de urgência como “últimas unidades” ou “só hoje”.

Pedidos para pagamento apenas por métodos irreversíveis (transferência direta ou MB Way para contas pessoais).

Falta de fatura com NIF válido da empresa.

Domínios estranhos que não correspondem a CTT, DHL ou qualquer transportadora oficial.

Contactos limitados a WhatsApp ou números que mudam constantemente.

É assustador porque o golpe é cirúrgico: joga com as nossas emoções e com a pressa. Quem está à procura de um produto difícil de encontrar ou com pressa de garantir uma compra é presa fácil. E cada vez mais vítimas caem porque estes sites falsos aparecem bem posicionados em pesquisas e até em anúncios pagos.

Então, como proteger-te?

• Compra apenas em sites que emitem fatura com NIF válido.
• Usa métodos de pagamento com proteção (cartão de crédito, PayPal) que permitem estornar transações
• Verifica sempre o domínio e procura erros subtis: um “.net” em vez de “.pt”, ou uma letra trocada.
• Pesquisa a empresa: reviews em sites independentes, reclamações em fóruns e comentários fora da própria página.
• Desconfia de preços demasiado baixos: ninguém vende algo a metade do preço sem motivo.

Se já caíste, o tempo é crucial. Contacta imediatamente o banco para tentar estornar o pagamento, reporta no MB Way (quando aplicável), guarda todos os comprovativos e prints, e apresenta queixa à polícia. Denuncia também na plataforma onde viste o anúncio e, se possível, expõe nas redes sociais. Muitas vezes a pressão pública trava o esquema.

Entretanto no final, a verdade é dura: os criminosos sabem como explorar as nossas fraquezas. Assim criam escassez artificial, pressionam para agir rápido e oferecem uma falsa sensação de segurança com emails automáticos e “estatísticas” inventadas. O resultado? Perdes dinheiro, ficas sem produto e ainda corres o risco de ter os teus dados pessoais expostos.

A próxima vez que vires um site a pedir “só 20% agora para garantir o envio”, lembra-te: essa pequena caução pode ser o preço da tua ingenuidade. Entretanto não são apenas 20% que perdes é a totalidade da compra, a tranquilidade e, muitas vezes, a confiança em voltar a comprar online.