Se já tiveste uma moeda na mão (e claro que já tiveste), de certeza reparaste num detalhe curioso: muitas delas têm ranhuras à volta, como se fossem pequenas linhas gravadas no metal. Mas afinal… para que servem? Será apenas decoração? Uma questão de design? Ou esconde-se aqui uma história bem mais estranha? Spoiler: a resposta tem a ver com burlas, ladrões habilidosos e até com acessibilidade para pessoas invisuais.
A origem das ranhuras nas moedas
Nos séculos XVII e XVIII, as moedas não eram apenas um pedaço de metal com valor atribuído pelo Estado. Eram literalmente feitas de ouro e prata maciços, e o seu valor correspondia ao peso do metal precioso.
O problema? Onde há oportunidade, há espertos. Muitos começaram a raspar ligeiramente as bordas das moedas para recolher pequenas limalhas de ouro e prata. Depois, juntavam esse pó metálico, fundiam-no e ficavam com lucro fácil enquanto as moedas continuavam a circular, mas cada vez mais leves e com menos valor real.
Era a chamada prática de “clipping”.
Resultado? O sistema monetário começava a desmoronar-se, porque o dinheiro deixava de valer o que devia.
A solução genial contra os burlões
Para travar este truque, alguns países começaram a fabricar moedas com bordas serrilhadas. Ou seja, as famosas ranhuras.
Assim, se alguém tentasse raspar, o esquema ficava logo visível: a moeda perdia as marcas, denunciando a burla.
Ou seja: as ranhuras não nasceram como estética. Eram um verdadeiro sistema de segurança anti-fraude da época.
E funcionou. De tal forma que, ainda hoje, mesmo quando as moedas já não têm metais preciosos, muitas continuam a trazer esse detalhe histórico gravado.
A função moderna das ranhuras
Mas se hoje as moedas já não valem pelo peso do metal, por que razão continuam a ter ranhuras?
Tradição: trata-se de um detalhe que ficou associado à ideia de moeda autêntica.
Segurança: continua a dificultar falsificações, porque exige moldes mais complexos.
Acessibilidade: talvez o detalhe mais bonito: as ranhuras ajudam pessoas invisuais a distinguir moedas pelo tato.
Em Portugal, por exemplo, quem não vê pode identificar facilmente a diferença entre moedas de 10 cêntimos (lisinha) e de 20 cêntimos (com ranhuras distintas).
Curiosidades que quase ninguém sabe
As moedas de 1 euro têm ranhuras interrompidas: parte lisa, parte serrilhada. É um truque adicional para distinguir pelo toque.
Já houve países que tentaram abolir as ranhuras mas voltaram atrás depois de queixas de invisuais.
As primeiras máquinas automáticas de venda usavam justamente o tato das ranhuras para verificar autenticidade.
Então… ainda fazem sentido hoje?
A resposta é sim. Mesmo que já não seja pelo ouro ou pela prata, as ranhuras continuam a:
- Dificultar a falsificação;
- Ajudar invisuais a reconhecer moedas;
- Manter uma ligação cultural e histórica à forma como o dinheiro evoluiu.
Ou seja, aquele detalhe que parece apenas “um enfeite” é, na verdade, um dos maiores truques de design inteligente da história.
Da próxima vez que pegares numa moeda e passares o dedo pelas bordas, lembra-te: aquelas pequenas linhas contam uma história de burlões, de reis preocupados em salvar as finanças do reino e até de acessibilidade para milhões de pessoas.
Um detalhe minúsculo que, no fundo, ajudou a mudar a forma como entendemos o dinheiro.