Se alguma vez te ouviste numa gravação de áudio e pensaste “mas eu não falo assim!”, não estás sozinho. A maioria das pessoas detesta ouvir a própria voz gravada, porque ela soa estranha, fina ou até infantil. Mas calma: não é que estejas a falar mal, é a ciência que prega partidas ao teu cérebro. Então mas como é que a voz soa diferente nas gravações?
A voz que tu ouves vs. a voz que os outros ouvem
Quando falas, há duas formas de o som chegar até ao teu ouvido:
Condução aérea: é o som que sai da tua boca, viaja pelo ar e chega ao ouvido (igual ao que os outros ouvem).
Condução óssea: são as vibrações que passam pelos ossos do crânio e chegam diretamente ao ouvido interno.
A mistura destes dois caminhos faz com que tu ouças a tua voz mais profunda e encorpada do que ela realmente é.
Por que a voz soa diferente em gravações?
Numa gravação, só ouves a parte aérea do som, sem a componente que os ossos acrescentam. Resultado: a tua voz parece mais aguda, metálica ou “sem peso”.
O cérebro, que está habituado à versão encorpada, estranha e rejeita aquela “nova voz”.
O efeito psicológico: por que nos incomoda tanto?
Não é só biologia, é também psicologia. Ao ouvires-te gravado:
- Soa “diferente” do que esperas, e o cérebro interpreta como algo errado.
- Reages como se estivesses a ouvir outra pessoa a imitar-te.
- Muitas vezes reparas em falhas, tiques ou respirações que nunca notaste ao vivo.
É por isso que tantas pessoas ficam envergonhadas ao ouvir a própria voz gravada.
Estudos mostram…
Pesquisas revelam que, quando se pede a pessoas para escolherem a gravação que “mais gostam”, muitas vezes preferem uma versão que não corresponde àquilo que elas próprias acham que é a sua voz. Ou seja, há uma desconexão entre a autoimagem vocal e a realidade.
A voz é também identidade
A forma como falamos faz parte da nossa identidade. O choque ao ouvir a voz gravada vem também do facto de não bater certo com a imagem que temos de nós próprios.
É como quando nos vemos numa fotografia inesperada e pensamos “será que é mesmo assim que eu pareço?”.
A boa notícia
Se trabalhas em áreas onde tens de gravar a voz (professores, podcasters, jornalistas, criadores de conteúdo), com o tempo o teu cérebro adapta-se. Começas a aceitar essa versão aérea da voz como parte de ti.
Muitos profissionais relatam que, depois de meses de gravações, já não sentem o desconforto inicial.
Ou seja, a tua voz gravada não é “feia” nem “errada”. É apenas diferente, porque o teu corpo adiciona frequências que só tu consegues ouvir. Para o resto do mundo, essa voz que achas estranha é a única que conhecem e é exatamente assim que te reconhecem.
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