Vénus é um verdadeiro inferno para os seres humanos: temperaturas extremamente elevadas, pressões atmosféricas esmagadoras e uma atmosfera densa composta por dióxido de carbono e ácido sulfúrico tornam o planeta um dos ambientes mais hostis do Sistema Solar. No entanto, a China tem planos ambiciosos para enfrentar esse desafio e trazer amostras diretamente da atmosfera de Vénus para a Terra.
China quer trazer amostras de Vénus para a Terra
Este projeto inovador está em desenvolvimento pela Academia Chinesa de Ciências (CAS), a Administração Espacial Nacional da China (CNSA) e o Gabinete de Engenharia Espacial Tripulada da China (CMSEO). O plano foi inicialmente anunciado em 2023, com uma janela de lançamento prevista entre 2028 e 2035, embora os detalhes concretos da missão ainda sejam escassos.
Procurar vida e estudar os mistérios da atmosfera
Uma imagem recentemente partilhada nas redes sociais, aparentemente extraída da apresentação da missão, reavivou o interesse em torno do projeto. Entre os principais objetivos da missão estão:
- Procurar sinais de vida microbiana nas nuvens de Vénus;
- Estudar a evolução geológica e atmosférica do planeta;
- Compreender os ciclos químicos e físicos da sua atmosfera.
Apesar de ser um ambiente extremamente hostil, alguns estudos recentes sugerem que pode existir vida microscópica nas camadas superiores da atmosfera venusiana. Trazer amostras para a Terra permitiria confirmar ou refutar estas hipóteses com análises laboratoriais muito mais avançadas do que seria possível fazer in situ.
Uma missão em duas fases
Segundo os dados disponíveis, a missão deverá envolver pelo menos duas naves espaciais. Uma ficará em órbita de Vénus e a outra penetrará na atmosfera para recolher partículas e gases. Esta abordagem já tinha sido proposta numa missão conceptual do MIT em 2022. Assim sugeria o uso de um balão revestido a Teflon resistente à corrosão para recolher amostras, as quais seriam depois enviadas de volta à órbita e, daí, para a Terra.
Vénus: um destino difícil, mas não inédito
Já conseguimos pousar em Vénus antes. As missões soviéticas Venera conseguiram captar imagens da superfície nas décadas de 60, 70 e 80, antes de os equipamentos serem destruídos pelas condições extremas. No entanto, nenhuma missão conseguiu regressar com amostras.
Se a China conseguir mesmo recuperar material da atmosfera de Vénus, mesmo que em pequenas quantidades, isso poderá transformar radicalmente o nosso conhecimento sobre o “planeta irmão” da Terra — e, quem sabe, revelar sinais de vida onde menos se esperava.