Fora de jogo à régua e esquadro pode ter os dias contados. Hoje em dia, existem lances anulados por 1 centímetro. Coisa que, para qualquer pessoa que andou em desportos a sério, irrita forte e feio.
Afinal de contas, um jogador em duelo com um defesa, não está a contar se está 1 ou 2 cms à frente. É completamente impossível, e não é por essa distância que se ganha uma vantagem. Mas é por essa distância que se estraga a experiência do espetador.
Aliás, é por esta forma de fazer as coisas, que depois vemos o VAR a ser sempre destaque em todo e qualquer jogo, porque acaba por ser um trabalho injusto, e frustrante.
É também por isso que as regras vão mudar.
VAR vai deixar de ser o problema que é. Bom ou mau?

O fora de jogo existe para evitar o que acontecia há muitos e longos anos. Ou seja, jogadores “à mama”, completamente desligados do jogo, apenas a aguardar que uma bola bombeada lhes chegue aos pés.
Mas, nos dias que correm, o fora de jogo transformou-se numa das maiores fontes de frustração do futebol moderno. Curiosamente, graças ao uso de tecnologia avançada, que por sua vez é capaz de ir frame a frame, perceber se o jogador está ou não adiantado 1 ou 2 cms.
Estamos a falar de golos anulados por milímetros, linhas desenhadas ao pormenor, decisões que ninguém entende bem e discussões que duram mais do que o próprio jogo.
Agora, a FIFA admite que pode estar na altura de mexer a sério na regra.
Quem o diz é Gianni Infantino, que abriu a porta à implementação da chamada Lei Wenger, uma proposta antiga de Arsène Wenger, atualmente responsável pelo desenvolvimento do futebol mundial na FIFA.
O que muda afinal com a Lei Wenger?
A ideia é simples no papel.

Um jogador só estaria em fora de jogo se todo o corpo estivesse à frente do último defesa. Não bastaria um pé, um joelho ou um ombro ligeiramente adiantado. Enquanto houver qualquer parte do corpo em linha com o defesa, o lance segue.
Na prática, isto tenta devolver algum bom senso à regra. Como dissemos em cima, o fora de jogo nasceu para evitar jogadores plantados na frente à espera da bola, não para anular golos porque um avançado respirou um bocadinho mais à frente no momento do passe.
Menos injustiça ou apenas polémica diferente?
Quem defende a mudança diz que é um passo lógico. Um jogador em linha, mesmo que se estique para finalizar, não está a ganhar uma vantagem absurda. Está apenas a jogar futebol. Acabar com decisões baseadas em milímetros pode ajudar o jogo a fluir e reduzir a sensação de injustiça.
Mas, há quem ache que nada muda de fundo. Em vez de medir o joelho do avançado, passa-se a medir o calcanhar ou o nariz do defesa. A tecnologia continua a ser chamada ao detalhe extremo e a polémica muda apenas de sítio.
No fundo, troca-se a discussão sobre quem está fora de jogo pela discussão sobre quem está em jogo.
Impacto tático pode ser maior do que parece!
Uma coisa é quase certa. Se esta regra avançar, o futebol vai adaptar-se rapidamente.
Estamos a falar de defesas mais recuadas, linhas mais baixas e menos risco. O chamado park the bus pode ganhar ainda mais força, especialmente em equipas que vivem do erro do adversário.
Por outro lado, jogadores rápidos e ataques em profundidade passam a ser mais perigosos. Um passe nas costas da defesa deixa de ser imediatamente anulado por detalhes microscópicos. O jogo pode ganhar mais golos, mais transições rápidas e menos paragens.
Se isso melhora ou piora o futebol, depende muito do gosto de cada um.
O futebol quer mudar, mas não sabe bem como?
Esta possível alteração mostra uma coisa importante. O futebol percebe que se perdeu algures no caminho. Quer mais golos, mais espetáculo, menos discussões intermináveis. Mas cada tentativa de correção traz novos problemas.
A Lei Wenger pode não ser perfeita. Provavelmente não é. Mas pelo menos tenta responder a uma crítica real que cresce todos os anos. A sensação de que o jogo deixou de ser decidido no relvado e passou a ser decidido à lupa, com muita tecnologia à mistura.
Temos de esperar para ver o que muda. Mas, pelo menos na minha opinião, como está não pode ser.

