Sábado, Setembro 20, 2025

Novo chip pode revolucionar o tratamento da leucemia

A terapia com células CAR T é considerada uma das maiores revoluções no tratamento do cancro, especialmente no combate a cancros do sangue como é o caso da leucemia. Ao usar células do próprio sistema imunitário do paciente, modificadas para reconhecer e destruir células cancerígenas, esta abordagem tem conseguido resultados notáveis onde outros tratamentos falharam. Mas há um grande “mas”.

Novo chip pode revolucionar o tratamento da leucemia

Apesar do seu potencial, quase metade dos doentes com leucemia acabam por sofrer recaídas, e os efeitos secundários podem ser graves. Parte do problema é que os métodos tradicionais de teste são limitados e não conseguem prever com precisão como os tratamentos vão funcionar em cada caso.

Agora, uma equipa de investigadores das universidades de Penn (Perelman School of Medicine) e de Nova Iorque (Tandon School of Engineering) criou uma solução surpreendente. Trata-se de um “chip” do tamanho de uma lâmina de microscópio que simula a estrutura da medula óssea humana… com leucemia incluída. E não só. Este dispositivo inclui também um sistema imunitário funcional. Os resultados foram publicados na Nature Biomedical Engineering.

Imagem: Cortesia Weiqiang Chen

Um laboratório completo… 

Batizado de “leucemia num chip”, este dispositivo recria as três zonas principais da medula óssea onde a leucemia se desenvolve: os vasos sanguíneos, a cavidade central e o revestimento do osso. Quando se introduzem células de medula óssea de um doente, o sistema começa a organizar-se sozinho, criando proteínas estruturais como colagénio e laminina, tal como no corpo humano.

Isto permite ver, em tempo real, como as células CAR T se movem através dos vasos, reconhecem células cancerígenas e as eliminam. Entretanto é algo que até agora nunca se tinha observado com tanto detalhe.

“Estamos a ver as células imunitárias patrulhar, detetar células de leucemia e eliminá-las, uma a uma”, explica Weiqiang Chen, professor da NYU.

Além disso, foi possível ver que estas células CAR T não só atacam diretamente as células cancerígenas como também ativam outras células imunitárias à sua volta, num efeito “bystander” que pode reforçar o tratamento mas também ajudar a explicar alguns efeitos adversos.

Personalização e rapidez: o futuro da oncologia?

Com este chip, os investigadores conseguiram simular diferentes cenários clínicos: desde a remissão completa, até à resistência ao tratamento e recaídas. Também testaram uma nova geração de células CAR T mais sofisticadas, que demonstraram maior eficácia, mesmo em doses mais baixas.

Outro ponto a favor: enquanto um modelo animal pode demorar meses a preparar, este dispositivo desenvolve-se em meio dia e suporta experiências de duas semanas. Isto abre caminho a um futuro em que os médicos possam testar várias terapias em laboratório. Tudo com células do próprio paciente, antes de escolherem o tratamento mais eficaz.

“Em vez de uma abordagem ‘tamanho único’, poderíamos identificar a melhor terapia para cada doente individual”, resume Chen.

Este avanço surge num momento oportuno. Isto porque a FDA (agência reguladora dos EUA) anunciou recentemente planos para reduzir o uso obrigatório de testes em animais no desenvolvimento de medicamentos.

Um passo gigante para tratamentos personalizados

Entretanto este trabalho mostra como a colaboração entre áreas tão diferentes como a bioengenharia e a imunologia pode criar soluções inovadoras. Assim segundo a investigadora Saba Ghassemi, da Universidade da Pensilvânia, “criámos um modelo coerente que espelha as interações complexas entre células CAR T e a leucemia no corpo humano. É uma ferramenta poderosa para testar novas estratégias e acelerar o caminho para terapias mais precisas e personalizadas”.

Num mundo em que cada vez mais se fala de medicina personalizada, este pequeno chip pode vir a fazer uma enorme diferença. Também oferecer uma nova esperança a quem mais precisa. Sem dúvida uma grande evolução no tratamento da leucemia.

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Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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