A terapia com células CAR T é considerada uma das maiores revoluções no tratamento do cancro, especialmente no combate a cancros do sangue como é o caso da leucemia. Ao usar células do próprio sistema imunitário do paciente, modificadas para reconhecer e destruir células cancerígenas, esta abordagem tem conseguido resultados notáveis onde outros tratamentos falharam. Mas há um grande “mas”.
Novo chip pode revolucionar o tratamento da leucemia
Apesar do seu potencial, quase metade dos doentes com leucemia acabam por sofrer recaídas, e os efeitos secundários podem ser graves. Parte do problema é que os métodos tradicionais de teste são limitados e não conseguem prever com precisão como os tratamentos vão funcionar em cada caso.
Agora, uma equipa de investigadores das universidades de Penn (Perelman School of Medicine) e de Nova Iorque (Tandon School of Engineering) criou uma solução surpreendente. Trata-se de um “chip” do tamanho de uma lâmina de microscópio que simula a estrutura da medula óssea humana… com leucemia incluída. E não só. Este dispositivo inclui também um sistema imunitário funcional. Os resultados foram publicados na Nature Biomedical Engineering.
Um laboratório completo…
Batizado de “leucemia num chip”, este dispositivo recria as três zonas principais da medula óssea onde a leucemia se desenvolve: os vasos sanguíneos, a cavidade central e o revestimento do osso. Quando se introduzem células de medula óssea de um doente, o sistema começa a organizar-se sozinho, criando proteínas estruturais como colagénio e laminina, tal como no corpo humano.
Isto permite ver, em tempo real, como as células CAR T se movem através dos vasos, reconhecem células cancerígenas e as eliminam. Entretanto é algo que até agora nunca se tinha observado com tanto detalhe.
“Estamos a ver as células imunitárias patrulhar, detetar células de leucemia e eliminá-las, uma a uma”, explica Weiqiang Chen, professor da NYU.
Além disso, foi possível ver que estas células CAR T não só atacam diretamente as células cancerígenas como também ativam outras células imunitárias à sua volta, num efeito “bystander” que pode reforçar o tratamento mas também ajudar a explicar alguns efeitos adversos.
Personalização e rapidez: o futuro da oncologia?
Com este chip, os investigadores conseguiram simular diferentes cenários clínicos: desde a remissão completa, até à resistência ao tratamento e recaídas. Também testaram uma nova geração de células CAR T mais sofisticadas, que demonstraram maior eficácia, mesmo em doses mais baixas.
Outro ponto a favor: enquanto um modelo animal pode demorar meses a preparar, este dispositivo desenvolve-se em meio dia e suporta experiências de duas semanas. Isto abre caminho a um futuro em que os médicos possam testar várias terapias em laboratório. Tudo com células do próprio paciente, antes de escolherem o tratamento mais eficaz.
“Em vez de uma abordagem ‘tamanho único’, poderíamos identificar a melhor terapia para cada doente individual”, resume Chen.
Este avanço surge num momento oportuno. Isto porque a FDA (agência reguladora dos EUA) anunciou recentemente planos para reduzir o uso obrigatório de testes em animais no desenvolvimento de medicamentos.
Um passo gigante para tratamentos personalizados
Entretanto este trabalho mostra como a colaboração entre áreas tão diferentes como a bioengenharia e a imunologia pode criar soluções inovadoras. Assim segundo a investigadora Saba Ghassemi, da Universidade da Pensilvânia, “criámos um modelo coerente que espelha as interações complexas entre células CAR T e a leucemia no corpo humano. É uma ferramenta poderosa para testar novas estratégias e acelerar o caminho para terapias mais precisas e personalizadas”.
Num mundo em que cada vez mais se fala de medicina personalizada, este pequeno chip pode vir a fazer uma enorme diferença. Também oferecer uma nova esperança a quem mais precisa. Sem dúvida uma grande evolução no tratamento da leucemia.
Precisamos dos nossos leitores. Segue a Leak no Google Notícias e no MSN Portugal. Temos uma nova comunidade no WhatsApp à tua espera. Podes também receber as notícias do teu e-mail. Carrega aqui para te registares É grátis!