Se tens a sensação de que a tua fatura de telecomunicações sobe todos os anos, não é paranoia é realidade. Pacotes com TV, net e telefone que começaram “a 34,99 € para sempre” estão hoje bem acima disso, mesmo sem mudares de serviço. E, pior, Portugal continua entre os países mais caros da União Europeia em vários perfis de consumo.
Relatórios da ANACOM e comparações com outros países mostram que, em muitos tipos de pacote típico (triple play, quadruple play, só internet fixa), Portugal está sistematicamente acima da média da UE, e em alguns casos mesmo no grupo dos mais caros. Mas se a concorrência aumentou com operadores low cost e novos players móveis porque é que a fatura das telecomunicações sobe todos os anos?
O truque das “atualizações de preço” que aceitaste sem dar por isso
Quase todos os contratos trazem hoje uma cláusula simpática: revisão anual de preços, normalmente indexada à inflação (IPC) ou a um índice escolhido pelo operador. Isso significa que, mesmo fora do período de fidelização, o preço pode subir todos os anos e tu só recebes um SMS ou e-mail a dizer que “a partir de X data a sua mensalidade será atualizada”.
Na prática, mesmo pequenos aumentos, tipo 1,5 € aqui e 2 € ali, acumulam ao longo dos anos. E como os pacotes misturam TV, net, telefone fixo, telemóvel e às vezes streaming, fica difícil perceber onde estás a pagar demais.
“Promoções para sempre”… até deixarem de ser
Outro clássico: as campanhas que oferecem descontos temporários disfarçados de preço final. Durante 24 meses pagas um valor simpático, mas a partir daí: acaba o desconto, entra a tabela “normal” (geralmente muito mais alta), e, ainda por cima, aplicam a tal atualização anual.
Se não estiveres atento, ao fim de três ou quatro anos estás a pagar quase o dobro do valor da primeira fatura, sem teres mudado nada no serviço.
Porque é que Portugal continua tão caro?
Há vários fatores:
- Mercado altamente concentrado: poucas grandes operadoras controlam a maioria do mercado fixo, e muitas das “novas marcas” são do mesmo grupo.
- Aposta forte em pacotes convergentes (TV+net+voz+móvel), que aumentam o ARPU e tornam mais difícil comparar só “internet” com outros países.
- Hábitos de consumo: em Portugal, a percentagem de clientes com pacotes muito completos e muitos canais premium é elevada, o que puxa o preço médio para cima.
A ANACOM tem vindo a insistir que, numa comparação homogénea de cestos de serviços, Portugal aparece recorrentemente no topo da tabela de preços da UE, sobretudo em pacotes com TV incluída.
O que podes fazer (além resmungar)
Ver a fatura linha a linha. Identifica todos os extras: boxes adicionais, canais premium que já não vês, serviços “seguros”, alugueres antigos.
Ligar para a linha de retenção. Quando o período de fidelização termina, é aí que estão os descontos a sério. Faz contas antes e leva propostas alternativas (ou preços da concorrência) para cima da mesa.
Comparar com operadores low cost. Em muitos casos, podes trocar TV por apps de streaming e baixar brutalmente a mensalidade, sobretudo se quase só usas internet.
Não ignorar o SMS de aumento. Quando a operadora te comunica uma subida de preço, normalmente tens direito a rescindir sem penalização, desde que o faças dentro do prazo indicado. Lê a mensagem até ao fim.
Enquanto continuarmos a aceitar aumentos como “coisa normal” e a ficar anos presos ao mesmo pacote sem olhar para o mercado, as operadoras não têm grande incentivo para mudar. E é por isso que, ano após ano, as nossas faturas sobem… e Portugal continua teimosamente no grupo dos países mais caros da Europa em telecomunicações.
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