Sempre que surge um novo smartphone chinês com uma bateria gigantesca, há uma pergunta que se repete. Porque é que as maiores fabricantes de smartphones do planeta (Samsung e Apple) continuam presas a capacidades mais modestas, quando a tecnologia aparentemente já permite ir muito mais longe?
A resposta não está na falta de capacidade técnica.
Como é óbvio, empresas desta envergadura já podiam ter baterias com maior capacidade nos seus equipamentos. É uma escolha consciente, e essa escolha tem muito mais a ver com medo, controlo e estratégia do que com atraso tecnológico.
O fantasma do Galaxy Note 7 ainda anda por aí

Para perceber a obsessão da Samsung com segurança e conservadorismo nas baterias, é impossível ignorar o passado.
O Galaxy Note 7 foi um dos maiores desastres da história da indústria móvel. Explosões, recalls globais, proibição em aviões, perdas financeiras gigantescas e um dano brutal na imagem da marca. Foi um daqueles momentos que ficam gravados na cultura interna de uma empresa.
Desde então, a Samsung passou a tratar tudo o que envolve baterias como um campo minado. Não interessa se a tecnologia é nova, promissora ou popular. Se existir risco, mesmo que pequeno, a resposta tende a ser não.
Silício-carbono promete muito, mas há um problema!

As baterias de silício-carbono são apelativas por uma razão simples. Permitem muito mais capacidade no mesmo espaço. Isto significa que é possível criar smartphones mais finos com a mesma capacidade de bateria de sempre. Ou então, meter muito mais bateria no mesmo espaço físico de antigamente.
É assim que aparecem smartphones com 6.000, 7.000 ou até 10.000 mAh em corpos relativamente finos.
O problema é que essa densidade extra não vem sem compromissos.
O ânodo de silício expande de forma agressiva durante os ciclos de carga e descarga. Estamos a falar de variações enormes face às baterias tradicionais. Essa expansão gera stress interno, acelera a degradação e reduz a longevidade da bateria de forma significativa.
Basicamente, estas baterias duram menos tempo. Potencialmente MUITO menos tempo.
Enquanto as baterias usadas pela Samsung e Apple são pensadas para cerca de dois mil ciclos, muitas baterias de silício-carbono ficam perto de metade disso. Para uma marca que promete anos de uso, atualizações longas e fiabilidade, isto é um problema sério.
A degradação não é linear e isso assusta marcas grandes

Outro detalhe importante é que a degradação não acontece de forma suave e previsível.
Em muitas baterias de silício-carbono, a perda de capacidade é mais acentuada nos primeiros meses, sobretudo quando combinada com carregamentos muito rápidos e temperaturas elevadas. Há utilizadores a relatar quedas de autonomia visíveis em menos de um ano.
Para marcas como a Samsung, Apple ou Google, isto é inaceitável. Não basta o telefone durar muito no primeiro ano. Tem de se comportar bem no segundo, no terceiro e, idealmente, até mais.
Especialmente agora com a promessa de atualizações durante 7 anos. Do que vale ter atualizações, se depois é preciso mudar de bateria 3 ou 4 vezes?
Dobraveis são o pior cenário possível
Curiosamente, os dobráveis são onde mais se pede uma bateria maior e onde esta tecnologia é mais problemática.
O espaço interno obriga a usar percentagens mais elevadas de silício para que a bateria faça sentido. Isso agrava ainda mais os problemas de expansão, desgaste e estabilidade ao longo do tempo.
Não é coincidência que os dobráveis da Samsung continuem com baterias relativamente pequenas.
Então porque é que as marcas chinesas avançam?
Aqui entra a diferença de filosofia.
As marcas chinesas apostam muito mais no impacto imediato. Números grandes na ficha técnica, carregamentos absurdos e autonomia impressionante nos primeiros meses. A maioria dos utilizadores troca de smartphone em dois ou três anos, e isso encaixa perfeitamente nesta estratégia.
Se algo correr mal, o impacto global é limitado. Por sua vez, para as gigantes Samsung e Apple, qualquer problema deste género seria mundial, mediático e devastador.
A Samsung não está parada… está à espera!
Importa deixar isto claro. A Samsung não ignorou esta tecnologia.
A empresa tem patentes registadas, investe em investigação e está a explorar alternativas mais seguras, desde versões mais controladas do silício-carbono até baterias de estado sólido. Os prazos apontam mais para 2027 ou 2028 do que para um futuro imediato.
Até lá, a prioridade continua a ser a mesma. Segurança, previsibilidade e longevidade.
Em suma…
A Samsung evita baterias de silício-carbono porque prefere perder a guerra dos números do que arriscar perder a confiança dos consumidores. É uma decisão racional, especialmente à luz do passado.
O problema é que, do lado de fora, começa a parecer estagnação.

