O tablet, como produto, já foi visto como o futuro dos computadores pessoais. Era leve, fino, com ecrã tátil e prometia substituir o portátil tradicional para milhões de utilizadores.
Mas o tempo passou e, tirando o balão de oxigénio que a pandemia trouxe, este formato passou de promessa a produto esquecido. E a pergunta impõe-se: o problema é o preço ou a falta de visão?
A resposta, na verdade, está um pouco nos dois.
Durante anos, o tablet viveu num limbo estranho: demasiado parecido com um smartphone para se justificar, e demasiado limitado para substituir um portátil.
Por isso, com os smartphones a crescerem em tamanho e funcionalidade, o tablet perdeu o seu espaço natural. Aliás, mesmo quando tentou dar o salto para um perfil mais “profissional”, surgiram as confusões: acessórios caros, designs pouco apelativos, sistemas operativos limitados e uma aposta cada vez maior em modelos de gama baixa, que não servem para nada mais do que navegar na internet e ver vídeos.
Na verdade, o maior problema dos tablets é estrutural.
A indústria nunca soube bem o que queria fazer com eles.
Tentou vender o conceito do “computador do futuro”, mas depois encheu o mercado de modelos lentos, com chips desatualizados e sem qualquer cuidado com o ecossistema de software. Resultado? Má experiência para o utilizador, fraca procura, e… menos investimento das marcas. A famosa pescadinha de rabo na boca em que o resultado dá vida à consequência.
É por isso que já vimos várias fabricantes abandonar o formato, como a ASUS ou a Acer. Aliás, nos dias que correm, só se safam as que dominam também o mercado de smartphones: Apple, Samsung, Xiaomi e Lenovo. Curiosamente, mesmo assim, é tudo feito com alguma hesitação. Por exemplo, a Samsung já nem lança tablets de topo todos os anos. Porquê? Simples… Não vendem.
A Apple, que é quem tem mais sucesso neste mercado, é talvez o melhor exemplo da divisão que existe no mundo dos tablets.
Equipou o iPad com chips que são iguais ou superiores aos de um MacBook. Mas continuou a dar-lhe um sistema operativo limitado. Porquê? Porque não compensa investir no iPadOS quando a procura por tablets continua fraca.
O hardware está lá. Mas o software, o que realmente faria a diferença, continua a falhar.
Ainda assim, os bons exemplos existem. Os tablets topo de gama como o iPad Pro, o Galaxy Tab S9 ou os mais recentes MatePad da Huawei são máquinas incríveis.
E aí nota-se claramente a diferença. Não têm nada a ver com os tablets de 200 euros que enchem os catálogos das lojas. Quem toca num topo de gama sente logo outro tipo de fluidez, qualidade de imagem e experiência geral.
Aliás, falo por experiência própria. Nunca fui fã de tablets. Mas agora que ando com um MatePad Pro atrás, começo a perceber o potencial. Estou literalmente a escrever este artigo num avião, num teclado magnético, depois de ter posto um filme em pausa. Tudo rápido, fluído, prático.
Se fosse com um tablet barato, provavelmente já estaria a arrancar os cabelos. Ou teria desistido de escrever tudo isto.
Portanto, sim, o tablet tem potencial. Muito. Mas falta visão.
Falta uma separação clara entre o que é um produto sério e o que é só mais um gadget barato para consumir multimédia. Era tempo de as marcas criarem sub-gamas mais bem definidas, e que deixassem de confundir os consumidores com lixo disfarçado de tecnologia útil.