O pão é presença obrigatória na mesa portuguesa. Ao pequeno-almoço, no almoço a acompanhar a sopa, ou ao jantar, é difícil passar um dia sem uma carcaça, papo-seco ou fatia de broa. Mas há um hábito que quase todos temos: comer pão do dia anterior. Parece inofensivo, afinal continua a saber bem. Às vezes até torrado parece melhor. Mas a verdade é que o pão que já não é fresco sofre alterações invisíveis que podem ter impacto no teu corpo.
O que muda no pão depois de um dia
Assim que o pão arrefece depois de sair do forno, começa um processo natural chamado retrogradação do amido. Traduzindo:
- O pão perde humidade.
- A sua textura fica mais seca e dura.
- O amido transforma-se, tornando-se mais resistente à digestão.
Isto significa que, ao comer pão do dia anterior, o teu corpo não reage da mesma forma que com pão fresco.
O efeito no corpo: nem tudo é mau
Muitas pessoas pensam que pão do dia anterior é apenas “menos saboroso”. Mas o impacto vai além disso:
Menor índice glicémico: como o amido se torna mais resistente, o pão liberta energia mais devagar. Isso significa que os picos de açúcar no sangue são menores, o que pode ser positivo para pessoas com diabetes ou que querem controlar o apetite.
Maior efeito saciante: como o corpo demora mais a digerir, ficas cheio durante mais tempo.
Aumento da fibra funcional: o pão envelhecido comporta-se quase como se tivesse mais fibra, ajudando o intestino a trabalhar melhor.
Ou seja, surpreendentemente, o pão do dia anterior pode ser mais saudável do que o pão acabado de fazer.
Mas há riscos a considerar
Nem tudo são boas notícias. Se o pão for guardado de forma incorreta, podem surgir problemas sérios:
- Bolor: mesmo que não vejas, pequenas colónias podem começar a crescer e produzir micotoxinas perigosas.
- Contaminação cruzada: ao ficar exposto, o pão pode absorver humidade, odores e bactérias do ambiente.
- Textura dura: pode ser difícil de mastigar para crianças pequenas ou idosos, aumentando o risco de engasgamento.
O maior erro é pensar que “se não tem verde, está bom”. O bolor muitas vezes começa invisível, e consumir pão contaminado pode causar desde problemas digestivos até intoxicações alimentares.
O pão do dia anterior engorda menos?
É um mito comum: “pão duro engorda menos”. Na prática, o valor calórico mantém-se praticamente igual. O que muda é a forma como o corpo processa os hidratos. Como a absorção é mais lenta, o impacto no açúcar no sangue é diferente, mas as calorias continuam lá.
Portanto, não é uma desculpa para abusar: pão é pão, e em excesso continua a contribuir para o aumento de peso.
Como aproveitar o pão do dia anterior sem riscos
Se gostas de pão do dia anterior, há formas de o consumir em segurança:
Torrar: melhora a textura e o sabor, além de eliminar alguma humidade.
Congelar no próprio dia: mantém a frescura e permite aquecer apenas quando precisares.
Usar em receitas: pão ralado caseiro, açorda, rabanadas, sopas ou tostas são formas seguras de aproveitar.
Evita sempre deixar o pão exposto em sacos plásticos fechados. Isto porque a humidade acelera o bolor. Sacos de pano ou papel são a melhor solução para consumo rápido.
Comer pão do dia anterior não é apenas uma questão de sabor. O corpo reage de forma diferente: absorve os hidratos mais devagar, sentes-te mais saciado e até beneficias de uma digestão mais estável. Mas há riscos que não deves ignorar, como o bolor invisível e a contaminação.
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