Há uma operadora low-cost a limitar em segredo a tua velocidade?

O Metro de Lisboa está finalmente a entrar no século XXI: na Linha Amarela já há 4G e 5G a sério, com frequências modernas e velocidades que, em teoria, deviam fazer qualquer geek sorrir. Mas quando, Ricardo José Saraiva, técnico de redes decidiu pôr as marcas low cost à prova… descobriu um padrão estranho. WOO, DIGI, amigo, Vodafone, UZO. No papel, todas prometem dados “sem surpresas”. Na prática, segundo os testes que ele fez, só numa delas aparecem “dois tipos de clientes”: uns com travão, outros sem e sem isso estar claro na oferta comercial. Tudo isto, sublinhe-se já, são alegações baseadas em testes reais de utilizadores, não é uma conclusão oficial de nenhum regulador. Mas qual é a operadora low-cost que pode estar a limitar em segredo a tua velocidade?

5G no Metro: a parte bonita da história

Comecemos pelo lado positivo: tecnicamente, a rede na Linha Amarela está com muito bom aspeto.

Com um realme X50 Pro 5G e a app Network Signal Guru, usando um cartão de uma marca low cost da MEO (UZO), foram detetadas:

  • 2G: 900 MHz
  • 4G: 800 MHz (10 MHz) + 1800 MHz (20 MHz) + 2100 MHz (20 MHz)
  • 5G NSA e SA: bandas n28 e n78

Ou seja, a Altice/MEO está mesmo a modernizar a infraestrutura no Metro. A rede aguenta muito mais do que aquilo que a maior parte das pessoas alguma vez vai precisar.

Nos testes, os valores foram mais ou menos estes:

  • 4G: ~173 Mbps de download / 42 Mbps de upload
  • 5G n28: ~180 Mbps de download / 47 Mbps de upload
  • 5G n78: ~195 Mbps de download / 83 Mbps de upload

Nada mau mas também nada de “uau” para quem conhece o potencial destas bandas, especialmente da n78.

E é aqui que começa o filme.

AMBR: o “tecto” invisível da operadora low-cost que pode estar a limitar a tua velocidade

Segundo o técnico que fez os testes, o problema não está na rede… está no AMBR do cartão.

AMBR (Aggregate Maximum Bit Rate) é, em linguagem simples, o “teto” de velocidade que a operadora atribui a um cartão, por software.

Nos testes que ele partilhou, o cartão UZO parecia preso a cerca de 170 Mbps de download e 60 Mbps de upload. Ou seja, mesmo que a rede conseguisse dar mais, o serviço ficava ali “capado”.

Mais grave: outros clientes com o mesmo tarifário UZO, mesma altura de adesão e situação semelhante não tinham esse limite.

Segundo este especialista, dentro da mesma marca low cost, parece haver clientes com travão e clientes sem travão, sem isso estar minimamente claro na comunicação comercial.

E é aqui que entra o verdadeiro choque: no site, a UZO promete “dados móveis sem restrições de velocidade”.

Se tudo isto se confirmar, a dissonância é óbvia.

WOO, DIGI, amigo, Vodafone: comparação entre low cost (alegada)

O mesmo utilizador decidiu não ficar por uma única marca. A ideia dele foi clara:

“Comparar as low cost para perceber quem está a limitar e como.”

Segundo os testes que ele alega ter feito:

WOO (NOS)
  • Consegue cerca de 600 Mbps no 4G e até 1,4 Gbps no 5G em vários locais.
  • Não encontrou indícios de limitações de velocidade específicas no tarifário que testou.
  • A sensação é: a rede dá, o cliente recebe.
DIGI
  • Vários cartões, vários tarifários testados.
  • A conclusão que ele partilha: “na Digi não há limitações, o cliente tem sempre o que a rede permite onde está.”
amigo (Vodafone)

Aqui, a situação é diferente:

  • Segundo ele, o limite ronda os 150 Mbps.
  • Mas esse limite é aplicado de forma geral a todos os clientes, não seletivamente.

Ou seja: pode ser chato, mas é coerente quem adere sabe que não é para bater recordes de velocidade.

Vodafone (tarifário normal)

amigo para vodafone... ou vodafone para vodafone?

Ele próprio testou um cartão Vodafone e diz que está limitado a cerca de 500 Mbps.

Outra vez, um teto… mas associado ao tarifário e não arbitrariamente a uns clientes e não a outros.

UZO (Altice/MEO)

É aqui que, segundo ele, a coisa descamba:

Clientes iguais, tarifários iguais, alturas de adesão semelhantes.

Uns ficam com AMBR de ~170/60 Mbps, outros aparentemente sem esse travão.

Ele próprio resume assim:

“Na UZO acaba por haver 2 tipos de clientes, uns que ficam com restrições e outros que ficam sem restrições. As razões desconheço.”

Mais uma vez: isto são relatos e testes partilhados por utilizadores, não uma auditoria oficial.

Publicidade “sem restrições de velocidade”: onde entra a polémica?

O ponto mais sensível de tudo isto não é técnico. É comercial e regulatório.

Se uma marca anuncia no site que os tarifários têm “dados móveis sem restrições de velocidade”, mas depois existem clientes que, na prática, são alvo de limitações técnicas invisíveis (como AMBR), que outros clientes iguais não têm, há aqui uma pergunta inevitável:

Isto é apenas uma política interna mal explicada… ou entramos no território da publicidade enganosa?

digi continua a melhorar o 5g em portugal! velocidades incríveis?

Especialistas em telecomunicações que comentaram o caso lembram ainda o princípio da não discriminação previsto na Lei das Comunicações Eletrónicas: clientes em condições equivalentes não devem ser tratados de forma diferente sem justificação objetiva e transparente.

Não cabe a nós, nem ao leitor, fazer o papel de tribunal ou de regulador. Mas a dúvida fica no ar e é legítima.

Tudo isto são alegações. E é precisamente por isso que importa falar delas

Convém sublinhar de forma clara:

  • Estes dados vêm de testes feitos por utilizadores, com ferramentas reais e medições repetidas.
  • Há prints, gráficos e comparações entre operadores que sustentam o que é dito.
  • Mas, até haver uma posição oficial da operadora ou do regulador, estamos a falar de alegações, não de uma condenação formal.

Ainda assim, são alegações com peso técnico e coerência nos resultados, e é por isso que fazem tanto barulho:

  • Porque mexem com a confiança nas marcas low cost;
  • Porque levantam dúvidas sobre transparência nas condições;
  • E porque mostram que, em 2025, ainda há clientes a descobrir que o “5G sem limites” afinal… tem limites que nunca viram na letra pequena.

O que deves fazer se desconfias que a tua low cost está “capada”

Se tens UZO, ou qualquer outra low cost, e isto te parece demasiado familiar, podes:
  • Testar seriamente a tua ligação
  • Faz vários Speedtests em 4G e 5G, em locais diferentes.
  • Se nunca passas de um certo valor (tipo 150–200 Mbps), mesmo em zonas com bom sinal, toma nota.

Comparar com outra pessoa

Se conheces alguém com o mesmo tarifário e mesma marca, testem lado a lado. Entretanto se o outro dispara para o dobro da tua velocidade, algo não bate certo.

Guardar provas

Screenshots, datas, horas, tipo de rede, local. Tudo conta. Questionar se existe algum limite de AMBR específico aplicado ao teu cartão. Pedir esclarecimentos formais. Reclamar se for preciso Explicar que a oferta comercial promete uma coisa, mas os testes mostram outra.

No fim do dia, a questão não é só “a minha net dá 170 ou 700 Mbps?”. A questão é: aquilo que te prometem corresponde ao que te entregam ou ficas no grupo dos clientes com travão escondido sem nunca teres sido informado disso?

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A ferver

Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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