Como falámos aqui, fomos até à Imacustica para tentar perceber um pouco melhor o estado do Hi-Fi em Portugal. Dito isto, mais do que ver equipamentos de sonho e ouvir música com uma qualidade que genuinamente dá arrepios, tivemos a oportunidade de conversar com quem vive isto há décadas.
Pessoas que sentem a música com o corpo todo, andam a lidar com o mercado há vários anos, e que de facto estão genuinamente preocupadas com o futuro deste mundo. Porquê? É complexo, mas a verdade é que existem motivos para essa preocupação.
O Hi-Fi está a morrer? Ou somos nós que já não sabemos ouvir música?
Pode parecer normal, mas hoje em dia somos um pouco guiados por maus hábitos. Ou seja, hoje em dia, estamos habituados a meter uns fones sem fios nos ouvidos, abrir uma app qualquer e carregar no play. É rápido, é prático, e é também muito acessível.
Funciona? Sem dúvida! Mas, quem percebe disto questiona “será que ouvimos mesmo música?” Ou será que só consumimos som, como quem consome um Reels ou passa demasiado tempo no TikTok?
Tudo mudou nos últimos 10~20 anos!
Apesar de ter “só” 33 anos, ainda sou do tempo em que era preciso fazer algum esforço para ouvir música. Eram cassetes gravadas a partir de emissões de rádios, CDs gravadas no PC da família. Músicas sacadas dos sites mais estranhos de sempre, etc…
Agora vivemos num tempo muito diferente, onde tudo tem de ser fácil e imediato. Não há tempo para mais nada. O que é de facto uma pena.
Pessoalmente, nunca tive alguém na minha família capaz de me passar esta música, mas já ouvi histórias de que no tempo dos nossos pais as coisas não funcionavam assim. Ouvir música era um ritual! Chegava-se a casa, ligava-se o amplificador, limpava-se o vinil, colocava-se a agulha no sítio certo. E depois… ouvia-se. A sério. De olhos fechados.
Era algo especial!
Aliás, nós já fizemos isto em vários eventos onde o som é a base de tudo, e é de facto especial. Ainda me lembro de uma música de Tool passada num setup de 300 mil euros na Imacústica, onde fechei os olhos… E meu deus! Incrível!
Porém, é exatamente aqui que está o problema. Ninguém sabe o que é isto da música a sério.
É preciso passar a mensagem!
Hoje em dia, a música é ruído de fundo para a rotina do dia-a-dia, e isso é um problema. Tem de ser resolvido!
Porquê é que isto acontece?
Porque o Hi-Fi é caro, e também porque parece complicado.
Infelizmente, ninguém explica a ninguém que a música pode soar mesmo melhor do que aquilo que os fones Bluetooth deixam passar.
Sim, por muito bons (e caros) que sejam os seus earbuds ou auscultadores, é aqui que entra a questão técnica que ninguém quer ouvir: o Bluetooth limita (e muito) a experiência. Por muito que o marketing diga o contrário, nenhum codec consegue competir com um bom sistema com fios, munido de música em alta resolução.
Aliás, os equipamentos Hi-Fi continuam a evoluir, a oferecer uma qualidade absurda! Mas o público para isso está a desaparecer.
Os eventos continuam a acontecer, especialmente em Portugal onde até tivemos um dos maiores eventos da Europa. Mas quem lá vai já passou (quase todo) dos 50. Os jovens? Nem vê-los.
O que é normal, porque da mesma forma que adoro café, a realidade é que continuo a optar pelas cápsulas das mais variadas marcas, porque são baratas e super simples de utilizar. Ou seja, até eu, que ando neste meio, sou como a grande maioria das pessoas que andam por aí. Estou preso ao que é fácil, e como tal, vivo um mundo sem “Magia” ou sem “Alma”.
Como é que explicamos isto a uma geração que nunca ouviu música fora do Spotify?
É um desafio, mas foi por isso que desafiei a Imacustica a criar um evento diferente. Um evento onde qualquer pessoa, com qualquer orçamento, consiga perceber o que é isto do Hi-Fi. Em suma, sentir a diferença!
Ou seja, consegue imaginar ouvir a sua música favorita em buds de 30 euros e depois num sistema a sério? Não para vender logo, mas pelo menos para plantar uma semente. Até porque um sistema Hi-Fi não tem de ser imediatamente caro. É possível ir montando algo aos poucos.
A realidade é que… Nos tempos que correm, só se valoriza aquilo que se conhece.
O Hi-Fi tem de descomplicar. Tem de sair do pedestal e chegar às mãos de quem só conhece música comprimida. Só assim vamos salvar esta arte de ouvir música. Porque sim, é mesmo uma arte.
Entretanto, pense para com os seus botões. Quando foi a última vez que ouviste uma música até ao fim, sem mexer no telemóvel?