O Nothing Phone (3) é estranho, é mesmo muito estranho. Podemos até dizer que é um daqueles equipamentos que, mal se olha para ele, sabemos que vai dar muito que falar, seja esse muito bom ou mau. E deu mesmo!
É inegável que a Nothing se meteu a jeito quando decidiu tirar 2024 do calendário de lançamentos para preparar “algo de verdadeiramente novo”, mas a verdade é que o novo topo de gama não corresponde às expectativas.
Não é que seja um mau smartphone, muito longe disso na verdade! Mas também não é o salto que parecia ter sido prometido. Além disso, é também um smartphone que está longe de ser convencional. Mas… Isso pode ser propositado. Aliás, até já cheguei a pensar que este lançamento é um exercício de marketing e não um lançamento de um produto a sério.
Vamos por partes!
Nothing Phone (3): o smartphone mais confuso do ano…
Como sempre, vamos começar pelo início, e também pelo mais óbvio: o design. O Phone (3) é… no mínimo dos mínimos, um smartphone estranho.
A traseira mantém a transparência típica da marca, mas as icónicas luzes Glyph que marcaram os modelos anteriores, e que em 2025 também deram um ar de sua graça nos modelos (3a) foram trocadas por um pequeno ecrã LED chamado Glyph Matrix.
Resultado? Perde-se personalidade, perde-se utilidade, e o que sobra é um painel que pode ter potencial, mas sente-se como um elemento inacabado.
Aliás, a Nothing não é a primeira a fazer algo deste tipo, e talvez pior que isso, também não está a conseguir fazer algo impressionante. Caso não saiba, a ASUS já tem um Matrix na traseira dos seus smartphones ROG há vários anos, e na minha opinião, com uma implementação muito mais natural e interessante.
Mais uma vez, não é que seja mau, mas em vez de algo funcional ou visualmente apelativo, e que até definia a marca aos olhos dos consumidores, temos uma matriz pixelizada que não impressiona nem em estética, nem em interação.
Especificações são boas, mas o preço foi ao lado.
Com um preço de 849 € para a versão base (12/256 GB) e 949 € para a versão com 16/512 GB, o Nothing Phone (3) entra diretamente na guerra dos “quase” topos de gama. Onde existem alternativas para dar e vender.
Algo curioso, porque era exatamente aqui que queríamos ver a Nothing com o seu Phone (3). Porém… Entra com armas um pouco aquém do esperado. O processador é o Snapdragon 8s Gen 4, que sendo competente, não compete com o Snapdragon 8 Elite que dá vida à grande maioria dos topo de gama, e muito menos ao Apple A18 presentes no lado Apple.
É um SoC bom, talvez até muito bom para o dia-a-dia, ao ser bom para jogos e multitasking, etc… Porém, não é o melhor em nada. Por 849€… Esperava algo mais Elite. Isto é especialmente verdade quando temos em consideração que já existe um Redmi com este mesmo SoC à volta dos 300€~400€.
A isto junta-se uma bateria de 5150 mAh, com carregamento rápido de 65 W, sem fios a 15 W e carregamento inverso. Uma bateria muito competente, que de facto até fica acima do S25 Ultra da Samsung. Podia ser melhor, porque existem smartphones com mais bateria no mercado. Mas está em linha com a sua gama de preços, e como tal, nada a dizer.
Já o ecrã é, provavelmente, um dos pontos altos. OLED de 6,67″, resolução 1.5K, 120 Hz adaptativo e brilho até 4500 nits. É um painel excelente, mesmo em ambientes exteriores, e rivaliza com os melhores do mercado.
As câmaras? Boas, mas não vai encontrar aqui um iPhone 16 Pro Max ou Galaxy S25 Ultra.
De facto, não faria sentido encontrar a mesma capacidade de foto e vídeo, face a um topo de 1500€. Estamos a pagar metade do valor desses topo de gama de referência. Por isso, nunca existiu essa obrigação.
Dito tudo isto, o Phone (3) traz três sensores de 50 MP: principal, ultra grande angular e uma telefoto periscópica com zoom ótico 3x e estabilização. Um “pacote” extremamente interessante capaz de ultrapassar o “bom” apesar de nunca chegar ao “excelente”.
As fotos têm detalhe, e cores muito perto da realidade. Mas, fica a ideia de que o processamento pode ser melhorado. Algo que provavelmente será corrigido em futuras atualizações, mas que, para já, o deixa atrás dos reis da fotografia mobile.
A câmara frontal, também de 50 MP, é competente, tanto para fotografia como também para vídeo.
Glyph Matrix: uma ideia gira que foi mal resolvida
O desaparecimento das luzes Glyph é, provavelmente, o erro mais grave do Phone (3). Este pequeno sistema de iluminação deu identidade à Nothing, e como tal, para mim é um erro desaparecer.
Aliás, acho que já foi um erro não termos visto as “luzinhas” nos recentemente lançados auscultadores da Nothing. Até podiámos meter o ecrã Matrix nos auscultadores e meter Glyphs no Phone (3). Era o que faria mais sentido para mim.
Pura e simplesmente não se pode desistir de algo que identifica a marca em qualquer lado.
Dito tudo isto, em vez das luzes temos a tal Glyph Matrix, que é pouco mais que um ecrã retro com algumas funcionalidades interessantes. Supostamente serve para notificações, animações ou interações rápidas, mas na prática acaba por saber a pouco. A Nothing promete melhorias ao longo do tempo, ao abrir o sistema ao público. Mas… As críticas podem ter uma razão de ser! Para quê apostar neste sistema, se ninguém sabe se ele vai continuar vivo nos próximos lançamentos?
Em suma, a Nothing trocou algo que tornava o seu smartphone imediatamente reconhecível por uma solução menos funcional, menos bonita e menos diferenciadora. Não consigo perceber. O ecrã podia existir, mas nunca como uma troca direta pelas luzes Glyph.
Veredito: é diferente? Sem dúvida! É mau? Nem por sombras! Vale a pena? Só você saberá responder.
O Nothing Phone (3) é um smartphone sólido, com bom desempenho, e um dos ecrãs mais brilhantes do mercado. A autonomia está lá, o design continua a tentar ser irreverente e o software é limpo, fluído, e também conta com suporte a longo prazo. Ou seja, no conjunto principal não há falhas. Todas as decisões polémicas estão nos “extras”.
Qual é o problema afinal?
O preço, as câmaras assimétricas, o desaparecimento do sistema de luzes e acréscimo do pequeno ecrã matrix, são os “pequenos” problemas deste smartphone. Porém, são “coisas” que não afetam em nada o desempenho no dia-a-dia do Nothing Phone (3).
É exatamente por isso que acredito que isto é uma jogada da Nothing. Uma jogada que mete os olhos da fabricante no futuro… Nunca ouviu dizer que “Bem ou mal, o que interessa é que falem?”
Talvez pareça louco, mas eu não creio que a Nothing queira fazer do Phone (3) um gigantesco sucesso de mercado. Isto é mais um grito de atenção, do que o lançamento do smartphone que quer mudar o mercado para todo o sempre.
Basta dar uma vista de olhos ao que tem vindo a ser dito nas redes sociais! Nunca se falou tanto da Nothing como agora. Sim, é verdade que muito do que foi e continua a ser dito está a apontar o dedo aos detalhes que parecem defeitos aos olhos da comunidade. Mas… Isso interessa? A Nothing está novamente na boca de todos, e de facto, se quiser ter o smartphone mais diferente do mundo… É para aqui que vai ter de olhar.
É uma aposta arriscada, mas será assim tão arriscada quanto isso?
Recomendado?
- Este smartphone seria facilmente um 4.5, ou até um 5 ao preço certo. Mas a Nothing exagerou a pedir 849€ para o modelo base e 949€ para o modelo mais apetrechado. Um acréscimo de 50€ face a outras regiões, mas aqui já sabemos como Portugal funciona. Seria 4.5 ou 5 porquê? Porque é um bom smartphone, tem é detalhes que não fazem sentido.
Uma coisa é certa… Se o comprar, fica bem servido. Não tenha dúvidas disso.