Review – Nothing Headphones (1): Dizer que falta alguma coisa a um produto da Nothing (nada) tem o seu quê de poesia. Mas, a realidade é que a Nothing, além de produtos de qualidade a um preço interessante, tem feito da diferença o seu principal argumento.
Design transparente, glyphs LED, toques retro-futuristas e uma linguagem visual que grita “não somos como os outros”. Mas, por alguma razão, nos novos Headphones (1), apesar de continuarem com um design que vai chamar a atenção por onde passa, alguma dessa magia parece ter ficado pelo caminho.
Não é que sejam feios. É uma coisa estranha, que se vai entranhando. Ou seja, é um produto que foi crescendo ao longo do tempo de teste, chegando ao ponto de dizer que são bem bonitos.
Mas a verdade é que não têm aquele toque de loucura inteligente que tornou a Nothing especial. Um toque que eu pensava que ia encontrar.
Onde estão os glyphs?
A primeira coisa que salta à vista: não há glyphs.
Sim, podíamos argumentar que colocar luzes LED numa estrutura over-ear não seria fácil, ou sequer útil. Mas também é isso que a Nothing costuma fazer: arriscar. Desta vez, jogaram pelo seguro.
Mas, talvez mais desapontante que isso, também não há ecrã matrix, como se espera ver no Phone (3).
Era aqui que se podia brilhar. Imagina isto! Estás no escritório com os fones postos e o auricular diz “DND” em letras brancas para que ninguém te incomode. Ou estás no ginásio e aparece um bonequinho a fazer bíceps com cara de poucos amigos.
Isto sim, era mostrar atitude, e seria de facto algo diferente do normal.
Design diferente, sem loucuras, mas alguma inteligência.
Não há dúvida de que os Headphones (1) se destacam. O design é transparente, com linhas limpas e um acabamento prateado esbranquiçado que os põe de imediato noutro campeonato visual. Mas mesmo com tudo isso, fica aquela sensação de que a Nothing podia ter ido ainda mais longe. Falta-lhes aquele elemento inesperado que nos faz dizer “isto só podia ser da Nothing”.
Ainda assim, é bom notar que, com 329 gramas, estes fones ficam entre os mais pesados da concorrência. Estão acima dos Sony WH-1000XM6 (254 g) e abaixo dos AirPods Max (385 g).
Não são leves, mas o peso está distribuido de forma muito inteligente. Por isso, são confortáveis, e talvez mais importante que isso, não escorregam da cabeça. Aliás, usei no ginásio, corri, saltei, levantei peso. Nunca sairam do sítio. Os melhores do mercado nesse aspeto.
Porém, há um defeito que não deveria de existir. Estes auscultadores não se dobram para facilitar a arrumação. Algo que a Apple e Sony também fizeram no passado, mas foi alvo de críticas pesadas. Aliás, a Sony já corrigiu o problema com os novos XM6.
Som com pedigree britânico!
Apesar das dúvidas no design, no som a conversa é outra. A Nothing aliou-se à reputada marca britânica KEF para desenvolver drivers dinâmicos de 40 mm, o que mostra que há ambição de oferecer uma experiência sonora de alto nível.
Além disso, há áudio espacial, reforço de graves adaptativo e cancelamento de ruído ativo (ANC) com até 42 dB de isolamento e alcance de 2000 Hz. Tudo isto coloca estes Headphones (1) como rivais diretos dos melhores fones com ANC do mercado.
A qualidade está lá. Aliás, ao longo do teste, é inegável que a qualidade foi aumentando de atualização para atualização, naquilo que foi uma Nothing sempre pronta a melhorar o produto até à data de lançamento.
ANC cumpre?
Sim, o ANC é de facto muito bom. Não vai ouvir grande coisa, e o sistema consegue dar uma outra primazia ao que está a ouvir em dado momento. Não sei se os ponho ao lado de um Sony WH-1000XM6 ou Bose Quietcomfort Ultra, mas não estão muito longe, e são também mais baratos.
Bateria que impressiona
A autonomia também é um dos trunfos. Com uma bateria de 1040 mAh, os números são difíceis de ignorar: 80 horas de reprodução com ANC desligado e 35 horas com ANC ligado, usando o codec AAC. Dito isto, se tiveres pressa, 5 minutos de carga chegam para 5 horas sem ANC ou 2,4 horas com ANC. Nada mau.
Veredicto: Vai ser interessante!
No final, os Nothing Headphones (1) são aquilo que se esperava em termos técnicos: bons auscultadores, com som cuidado, bateria impressionante e tecnologia de ponta. Mas falta-lhes algo. Falta-lhes identidade. Falta-lhes risco.
A Nothing habituou-nos a produtos com personalidade, com alma, com aquela faísca que nos faz virar a cabeça. E neste caso, entregaram apenas competência. Para a maioria das marcas, isso bastava. Mas para a Nothing, isso não chega.
Agora é esperar para ver a reação do público. É que a 299€, este produto fica muito perto dos rivais que entretanto estão sistematicamente com descontos em cima.