Terça-feira, Setembro 16, 2025

Menos aulas de condução, mais riscos na estrada? A polémica proposta do Governo

Acabaste de fazer 16 horas de aulas práticas com um instrutor. Achas que já dominas a embraiagem, os sinais e até aquele arranque em subida que tanto custa. Mas depois, em vez de continuares a aprender com alguém que corrige cada detalhe, és lançado para a estrada com um tutor, talvez um familiar, que nem sempre tem a paciência ou o conhecimento para ensinar. Parece arriscado? É exatamente isso que está em cima da mesa. Mas será que menos aulas de condução significa mesmo mais riscos na estrada?

O que o Governo quer mudar

A proposta é clara: reduzir para metade as aulas práticas obrigatórias em escolas de condução, passando de 32 horas para apenas 16 com instrutores certificados. O resto seria feito através de uma solução de condução acompanhada por tutor, uma espécie de aprendizagem caseira.

Segundo o Executivo, esta medida teria como objetivos baixar os custos para os jovens e famílias e tornar o acesso à carta mais acessível. Mas a verdade é que a ideia já está a gerar uma onda de contestação.

conduzir com óculos de sol quando está a chover é boa ideia?

O alerta das escolas de condução

A Associação Nacional de Escolas de Condução (ANIECA) não poupou críticas. Para esta entidade, aprender a conduzir não é só rodar o volante: exige acompanhamento pedagógico especializado, capacidade de correção de erros e treino em situações de risco.

Sem esse suporte, a preocupação é óbvia: condutores mal preparados, maior probabilidade de acidentes e aumento da insegurança nas estradas.

E lá fora, como é?

Portugal não seria o primeiro a testar modelos com tutores familiares. Mas há diferenças fundamentais:

França: existe a conduite accompagnée, mas só depois de 20 horas obrigatórias com instrutor. Além disso, há encontros pedagógicos com o tutor e avaliações contínuas.

Alemanha: o programa BF17 permite condução acompanhada, mas apenas após formação completa com instrutor. Estudos mostram uma redução de cerca de 17% nos acidentes entre jovens que seguem este regime.

Austrália: em alguns estados, os aprendizes precisam de 120 horas de condução acompanhada, mas sempre apoiadas em registos oficiais (logbooks) e validações de instrutores.

Reino Unido: a prática com familiares é permitida, mas a DVSA recomenda 45 horas de aulas profissionais + 20 horas de prática acompanhada.

Ou seja, nos países onde o modelo funciona, nunca se corta de forma tão brusca a formação profissional. Pelo contrário: garante-se uma base sólida com instrutor antes de passar para a condução com tutor.

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O risco de menos aulas de condução

Reduzir as aulas certificadas de 32 para 16 pode parecer uma poupança, mas na prática abre a porta a novos perigos:

Tutoria sem preparação: familiares podem transmitir maus hábitos ou não saber corrigir falhas críticas.

Falsa confiança: alunos podem sentir-se preparados cedo demais e assumir riscos desnecessários.

Menos exposição a cenários complexos: conduzir de noite, em autoestrada ou com mau tempo é algo que os instrutores forçam a treinar, mas que dificilmente será feito com tutores.

Impacto direto na segurança rodoviária: quanto menor a qualidade do ensino, maior a probabilidade de erros fatais no trânsito.

O que especialistas defendem

A experiência internacional mostra que a condução acompanhada só resulta se vier em cima de uma formação profissional robusta. Além disso, são necessários mecanismos de controlo: registos de horas, check-ups pedagógicos e até formação mínima para os tutores.

Sem essas condições, cortar as aulas com instrutor pode ser mais do que uma medida económica pode transformar-se numa ameaça real para a segurança de todos os que circulam na estrada.

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Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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