Quando olhamos para o céu noturno, é fácil esquecer que a Lua, afinal não está fixa ao nosso lado. Na verdade, ela está a afastar-se da Terra todos os anos. Parece ficção científica, mas é uma realidade comprovada pela ciência e as consequências podem ser muito maiores do que imaginas.
A Lua: o vizinho mais próximo… mas cada vez mais distante
Entre todos os corpos celestes do cosmos, a Lua é o que está mais perto de nós. É por isso que tem um impacto tão profundo no planeta: regula as marés, influencia os ritmos biológicos e até a estabilidade do eixo terrestre. Mas desde os anos 60 que os astrónomos descobriram algo surpreendente: a Lua está a afastar-se da Terra a uma média de 3,8 centímetros por ano. Parece pouco, mas ao longo de milhões de anos o efeito é gigantesco.
Como é que a ciência descobriu isto?
A resposta está em tecnologia digna de filme: lasers apontados à Lua. Durante as missões Apollo, os astronautas deixaram lá espelhos especiais chamados retro-refletores. Desde então, cientistas disparam raios laser a partir da Terra, que batem nesses espelhos e voltam. Medindo o tempo que o feixe demora a regressar, os astrónomos conseguem calcular a distância com precisão milimétrica. Foi assim que confirmaram: a Lua está, de facto, cada vez mais longe.
Porque é que a Lua se afasta?
O culpado é algo que sentimos todos os dias: as marés.
- A gravidade da Lua puxa a água dos oceanos, criando o fenómeno das marés altas.
- Como a Terra roda mais depressa do que a Lua orbita, esse “inchaço” de água fica ligeiramente adiantado em relação à posição da Lua.
- Esse desfasamento cria uma força de arrasto que abranda lentamente a rotação da Terra e, ao mesmo tempo, “empurra” a Lua para fora da sua órbita.
É como um jogo de empurra-empurra cósmico: a Terra perde velocidade, e a Lua ganha distância.
O impacto no nosso planeta
Pode parecer algo insignificante no curto prazo, mas a longo prazo as mudanças são dramáticas:
Dias cada vez mais longos: Há milhões de anos, um dia na Terra durava apenas 23,5 horas. Hoje já dura 24h, e no futuro continuará a aumentar.
Fim dos eclipses solares totais: Se a Lua continuar a afastar-se, chegará o momento em que será demasiado pequena no céu para tapar totalmente o Sol. Nesse dia, os eclipses totais deixarão de existir.
Alterações no ritmo da vida: A relação entre a Lua e as marés pode sofrer mudanças subtis, o que afetaria os ecossistemas costeiros e espécies que dependem desse ciclo.
Um planeta “travado”: Num futuro muito distante, a rotação da Terra poderá ficar sincronizada com a órbita lunar. Isso significa que um dia terrestre duraria tanto quanto um mês lunar. Ou seja cerca de 29,5 dias.
A dança cósmica entre Terra e Lua
Este fenómeno é conhecido como acoplamento de maré, e já acontece noutros sistemas, como em luas de Júpiter ou Saturno. No caso da Terra, o processo é extremamente lento, mas inevitável. O curioso é que, ao mesmo tempo que a Lua se afasta, está também a proteger-nos. Sem ela, o eixo da Terra seria muito mais instável, e isso poderia causar alterações climáticas extremas.
Ficção científica ou realidade inevitável?
Embora este afastamento não vá trazer mudanças drásticas no nosso dia a dia, o simples facto de a Lua estar a migrar lentamente para longe é um lembrete de que o universo está em constante transformação. Daqui a milhares de anos, a experiência de ver um eclipse total será apenas uma memória da humanidade e quem cá estiver já viverá dias muito mais longos.
A Lua, tão próxima e tão familiar, afinal está a preparar uma despedida lenta, quase impercetível, mas com efeitos que poderão mudar para sempre a forma como vivemos e entendemos o planeta. É o tipo de realidade que nos faz perceber: o espaço pode parecer estático, mas na verdade está sempre em movimento e nós com ele.
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