Tenho a certeza que já participaste numa daquelas conversas acesas sobre carros, onde se fala dos elétricos, dos híbridos, do futuro da mobilidade… e do nada, alguém larga a frase: “Esqueçam lá os elétricos, o futuro é o hidrogénio!”
É daquelas frases que até soa bem, mas que na prática revela um certo afastamento dessa pessoa para com a realidade. Porque, a não ser que haja uma revolução tecnológica (daquelas a sério), é muito difícil que vejamos carros a hidrogénio a circular por aí como vemos hoje modelos a gasolina ou gasóleo.
Porquê? O Hidrogénio não pode ser o futuro?
Porque o hidrogénio é caro de produzir, difícil de armazenar, e ainda mais complicado de distribuir. A infraestrutura necessária para abastecer este tipo de veículos, em escala, simplesmente não existe. A motorização não é o problema, porque até já existem soluções muito interessantes. O problema é mesmo a produção e abastecimento do combustível para os mais comuns dos mortais.
É exatamente por isso que ao contrário dos postos de carregamento elétrico, que têm vindo a multiplicar-se ao longo dos últimos anos, o hidrogénio continua preso a meia dúzia de postos experimentais e protótipos de showroom.
Aliás, é dentro desta lógica que o Hidrogénio poderá evoluir apenas para pesados de transporte de mercadorias, aviões ou navios.
Mas… e se te disser que o hidrogénio pode de facto ter futuro? Só que noutro palco.
Como deves saber, o mundo do desporto automóvel tem alguns problemas para resolver se quer continuar a ter sucesso por muitos e longos anos. A sustentabilidade é um problema, porque as marcas precisam de manter uma face “verde” para os seus clientes estarem felizes.
É por isso que vamos ver uma grande aposta em combustíveis sintéticos, como é o exemplo da F1 já a partir de 2026, e é também precisamente no desporto motorizado que o hidrogénio pode começar a mostrar o que vale. Aliás, a Alpine está a levar essa hipótese muito a sério com o seu Alpine Alpenglow.
Um hypercarro movido a hidrogénio, que já em todo o seu esplendor. Afinal de contas, o Alpenglow Hy6 deu umas voltinhas em SPA durante este último fim-de-semana de WEC. Curiosamente, a Alpine até foi capaz de fazer um pódio, ao meter um carro em terceiro lugar no final das 6 horas de corrida.
Dito tudo isto, da mesma forma que o Renault Embleme é um laboratório sobre rodas, este Alpenglow acaba também por ser uma montra tecnológica. Podemos até dizer que pode ser uma visão arrojada do que pode ser a competição do futuro. Um protótipo movido a hidrogénio, com visual de cortar a respiração e um barulho que mete respeito, mesmo sendo “limpo”.
Sim, porque ao contrário dos elétricos, este grita e grita a sério!
Aliás, até tem características técnicas muito interessantes para uma tecnologia que ainda tem muito para evoluir.
- O motor V6 bi-turbo de 3.5 litros produz 740 cv a 7600 rpm. A sua câmara de combustão e o circuito de ar foram concebidos por simulação digital em Viry-Châtillon, permitindo o mínimo de utilização de água.
- Cada um dos três reservatórios do Alpenglow Hy6 armazena 2.1 kg de hidrogénio gasoso de alta pressão. Localizados nos flancos e atrás do cockpit, estão montados em compartimentos ventilados e estanques, separados do habitáculo.
Pode achar que não, mas isto faz toda a diferença para quem ainda sente saudades de ouvir um motor a sério numa pista.
A Alpine quer competir, quer arriscar, e acima de tudo, quer provar que o hidrogénio pode ser viável num ambiente controlado como o desporto automóvel. Aqui, há orçamento, há vontade de inovar e, acima de tudo, há espaço para experimentar.
- Nota: Pode ficar a saber mais aqui.
Pode ser muito bom, porque, quem sabe, pode até abrir portas para algumas inovações técnicas. Portanto, sim… o hidrogénio pode mesmo ser o futuro. Mas não para ir buscar os miúdos à escola ou fazer uma viagem para o algarve.