O fogo de artifício em Marinhais, no último sábado, gerou uma onda de críticas um pouco por todo o lado. Não pelo espetáculo em si, mas pelo momento em que foi lançado.
A decisão da Comissão de Festas de antecipar o fogo para antes da meia-noite surgiu em resposta ao alerta vermelho decretado pelo Governo, que proíbe este tipo de atividade a partir desse momento.
Mas, e se parássemos um pouco para pensar no outro lado da história?
Sim, é fácil criticar. É fácil dizer que foi irresponsável, que faltou bom senso, que era preferível ter cancelado. Mas como alguém que vive em Salvaterra de Magos e já esteve envolvido com comissões de festas, digo com toda a certeza: quem diz isso nunca teve de organizar uma festa de aldeia.
Primeiro, importa salientar que o fogo de artifício não foi ilegal. Antecipar não é crime. O aviso estava em vigor a partir da meia-noite de domingo, e o espetáculo aconteceu ainda no sábado. Dentro da lei. Ponto final.
Talvez tenha sido um pouco “feio”. Uma forma de fugir ao que era correto. Mas, o alerta vermelho também podia ter sido imposto no imediato, em vez de começar apenas à meia noite. Aliás, o problema está aqui.
A comissão teve hipótese de escolha. Existindo um alerta vermelho agendado para a meia noite, a comissão podia antecipar. Aliás, qualquer comissão faria exatamente o mesmo.
Esta escolha não deveria ter existido.
O que aconteceria se a Comissão optasse por cancelar o fogo?
O impacto não seria apenas simbólico. Seria social, económico e até físico. Quem conhece estas festas sabe bem o que significa o chamado “Tratado do Ano”. Há contratos, compromissos, há egos, há tradições que, se quebradas, geram mais do que indignação, geram confusão. Por vezes até confrontos físicos. Dramas entre vizinhos e famílias. Por vezes até entre amigos. É a loucura. Tem pouca lógica eu sei, mas é assim que funciona.
Além disso, o fogo já estava pago. Não havia reembolso. Era o grande chamariz da noite. Com o cancelamento, estaríamos a falar de milhares de pessoas a reclamar, e claro, a sair do recinto. Aqui estamos a falar de comissões que operam com orçamentos apertadíssimos, muitas vezes sustentados por rifas, peditórios e muito esforço voluntário. Cancelar era perder dinheiro, perder a cara e, provavelmente, levar com um linchamento público durante o resto da noite.
Sim, podíamos ser mais cívicos. Podíamos, e talvez devêssemos. Mas a verdade é que, entre a pressão da população e a falta de alternativas viáveis, a Comissão optou pelo mal menor dentro da sua ótica, e isto sem fugir à lei.
Quem nunca organizou uma festa de “terriola”, não imagina as guerras que se evitam… Curiosamente com meia dúzia de foguetes.