Gostas de pagar tudo com o teu iPhone? Pois bem, a ideia do Euro Digital anda há anos a circular nos corredores de Bruxelas, mas começou agora a ganhar contornos bem mais realistas, o que nos faz pensar no que vai de facto mudar.
Dito isto, se este projeto avançar como está pensado, há um nome que pode sair claramente a perder no meio disto tudo… O Apple Pay.
O que é afinal o Euro Digital?

O Euro Digital é uma moeda digital emitida diretamente pelo Banco Central Europeu, uma espécie de “dinheiro oficial em formato digital”. Não é cripto, nem é um token privado, além disso não depende de bancos ou intermediários tradicionais.
A ideia é simples. Um meio de pagamento digital, aceite em toda a zona euro, sem taxas por transação, utilizável online, em lojas físicas e em pagamentos entre pessoas.
E aqui começa o problema para todos os outros.
Adeus taxas, adeus intermediários
Atualmente, grande parte dos pagamentos na Europa passa por esquemas internacionais como Visa e Mastercard, muitas vezes através de carteiras digitais como o Apple Pay ou o Google Pay.
Segundo dados oficiais, cerca de 61% das transações com cartão na zona euro dependem destes sistemas. Aliás, em 13 dos 20 países do euro, nem sequer existe um esquema de pagamento nacional próprio. (Nós temos a rede Multibanco).
Basicamente, o Euro Digital surge precisamente para cortar esta dependência externa. Sem taxas, sem redes privadas, sem comissões escondidas. Para consumidores e comerciantes, é uma proposta difícil de ignorar.
Soberania europeia também se paga no multibanco!
Para Bruxelas, o Euro Digital não é apenas tecnologia.
Num contexto geopolítico cada vez mais tenso, a União Europeia quer reduzir a sua dependência de infraestruturas financeiras norte-americanas. O que claro está, inclui Visa, Mastercard, Apple Pay e Google Pay. Todos eles baseados fora da UE.
A Apple já está a sentir a pressão?
Este cenário surge numa altura particularmente sensível para a Apple na Europa. A empresa foi classificada como “gatekeeper” ao abrigo do Digital Markets Act, o que obrigou a abrir o iOS a lojas de apps alternativas e a rever regras da App Store.
Além disso, enfrenta processos antitrust em vários países, incluindo ações judiciais nos Países Baixos e investigações na Suíça especificamente relacionadas com o Apple Pay.
Ou seja, o ecossistema fechado que sempre foi uma das maiores forças da Apple está a ser desmontado peça a peça no mercado europeu.
O Apple Pay vai desaparecer?
Provavelmente não. Mas pode perder relevância.
Se o Euro Digital for lançado como previsto, por volta de 2029, passa a existir uma forma oficial, gratuita e universal de pagar, integrada diretamente em carteiras digitais reguladas pelos Estados Membros
Nesse cenário, o Apple Pay e Google Pay deixam de ser críticos. Continuam a existir, mas já não é o caminho mais simples nem o mais barato. O que claro está, muda o jogo.
O que está realmente em jogo?
Se o Euro Digital cumprir a promessa de ser simples, privado, gratuito e amplamente aceite, pode alterar de forma profunda a forma como pagamos no dia a dia. Assim, o Apple Pay deixa de ser rei.
Mas como é óbvio, para ti vai ser igual. Vais continuar a conseguir pagar pelo telemóvel. Só não vai ser com a infraestrutura da Apple, Google, etc…

