Depois de alguns meses mais calmos, a tensão entre os Estados Unidos e a China no setor dos semicondutores continua a escalar. Agora, a administração norte-americana está a considerar cancelar as isenções que permitem a fabricantes como a TSMC, Samsung e SK hynix importar maquinaria avançada dos EUA para as suas fábricas em território chinês.
Se a medida avançar, poderá ser mais um duro golpe no equilíbrio da cadeia global de produção de chips. O que claro está, vai levar a um encarecimento de tudo, ou quase tudo, dentro do mundo da tecnologia.
Fim das isenções? O fantasma volta a pairar?
A ideia foi avançada por Jeffrey Kessler, subsecretário de Comércio para a Indústria e Segurança dos EUA, que levou o tema a uma audiência no Congresso. Segundo o Wall Street Journal e a Reuters, o objetivo passa por eliminar as exceções que, até agora, permitiam a estas empresas usar maquinaria americana sem necessidade de licenças individuais.
Na prática, isto significaria restringir o acesso a equipamentos essenciais fornecidas por empresas como a Lam Research ou KLA. Estas ferramentas são fundamentais na produção de chips, especialmente nas fases intermédias do fabrico, mesmo em nós menos avançados onde não se recorre a litografia EUV.
Por isso, não estamos a falar de aumentos de preço apenas nas gamas mais altas. É mesmo em tudo.
Uma jogada?
Apesar de ainda não haver decisão final, tudo indica que esta ameaça serve também como moeda de troca nas negociações comerciais entre Washington e Pequim.
A China, por sua vez, tem vindo a apertar o controlo sobre a exportação de metais raros essenciais à indústria tecnológica, impondo prazos de seis meses para a renovação das licenças. Trump já respondeu, exigindo garantias de fornecimento imediato no âmbito de um novo acordo comercial.
O problema? Restringir demasiado o acesso chinês a equipamentos de fabrico pode correr mal.
O governo americano teme que, ao cortar o acesso, esteja a incentivar ainda mais o crescimento da indústria de semicondutores doméstica na China. Afinal, só em 2024, empresas como a AMEC, ACM Research e a NAURA viram as receitas disparar até 45%, à boleia deste contexto de autossuficiência forçada.
Taiwan e Coreia podem não gostar
É aqui que o assunto ganha outra complexidade.
Afinal, tanto a TSMC como a Samsung e a SK hynix são empresas fundamentais na cadeia global de chips e parceiras estratégicas dos EUA. Complicar-lhes a vida nas operações na China pode não cair bem junto dos governos da Coreia do Sul e Taiwan.
Em suma, temos de esperar para ver, mas o setor dos chips continua no centro da guerra fria tecnológica do século XXI.