Vender online tornou-se um hábito comum em Portugal. Plataformas de compra e venda aproximam milhares de pessoas todos os dias e, muitas vezes, recorrem ao serviço dos CTT à cobrança para garantir que só há pagamento quando a encomenda é entregue. À primeira vista, parece um sistema seguro: o comprador paga apenas quando recebe e o vendedor sente que o valor está garantido. Mas a realidade tem mostrado o contrário.
Nas últimas semanas, surgiram vários relatos de vendedores que foram vítimas de uma burla cada vez mais sofisticada: enviam o produto à cobrança e acabam por receber a encomenda de volta… mas não como a enviaram. No lugar do artigo original, o que regressa é uma caixa alterada com um objeto qualquer de valor irrisório.
Como funciona a burla das encomendas à cobrança
O esquema é engenhoso e joga com a confiança que muitos têm no processo “à cobrança”. O vendedor envia o produto, devidamente embalado, e acredita que, se o comprador não o levantar, a encomenda regressa intacta. Mas no meio do circuito de distribuição, alguém com acesso à encomenda consegue manipular o conteúdo.
Em casos já relatados, produtos de alto valor como peças de informática ou telemóveis foram substituídos por objetos sem qualquer utilidade: desde detergentes de limpeza a embalagens vazias. A caixa regressa ao remetente aparentemente fechada e intacta, mas o interior já não corresponde ao que foi enviado.
O que isto significa é simples: o vendedor perde o artigo original e não recebe qualquer pagamento, já que a encomenda não foi levantada ou foi devolvida adulterada.
Onde pode estar o problema
Muitos utilizadores que partilharam experiências semelhantes levantaram a hipótese de existir conluio interno nos CTT ou em empresas subcontratadas. Afinal, para que uma substituição destas aconteça, é necessário acesso físico às encomendas. Está aqui um exemplo de um caso.
O processo de levantamento em balcão também não ajuda. Para receber uma encomenda à cobrança, o comprador precisa de identificação, mas até esse momento a caixa já percorreu vários pontos logísticos. É em algum destes pontos que a troca pode estar a ocorrer.
Alguns utilizadores no Reddit suspeitam que o esquema só é possível com ajuda de alguém dentro do processo de distribuição. Não é um golpe amador, mas sim um sistema já montado para que a burla passe despercebida até ser demasiado tarde.
Porque é tão perigoso
À primeira vista, o envio à cobrança parece ser a solução mais segura para vendas online. Mas este esquema mostra que até esse método tem falhas graves.
O perigo está no facto de a confiança ser quebrada em dois pontos:
- O vendedor acredita que, se a encomenda for devolvida, regressa intacta.
- O comprador sente-se protegido porque só paga no momento da entrega.
- Quando alguém consegue adulterar o conteúdo da caixa durante o processo, todo o sistema deixa de ser fiável.
O que fazer se fores vítima
Infelizmente, recuperar o prejuízo não é fácil. Ainda assim, existem passos importantes a seguir:
- Apresentar queixa formal nos CTT, preferencialmente através do livro de reclamações físico ou da plataforma online.
- Registar ocorrência na PSP ou GNR, já que se trata de furto e burla.
- Guardar todas as provas: fotografias da embalagem enviada, comprovativo do envio, registo do estado da encomenda devolvida e qualquer comunicação com o comprador.
- Contactar a plataforma de venda utilizada, para sinalizar o esquema e alertar outros utilizadores.
Como te protegeres no futuro
Ninguém está totalmente imune, mas há cuidados que podem reduzir bastante o risco:
- Evitar usar o método “à cobrança” para artigos de valor elevado.
- Usar sempre embalagens invioláveis e selos de segurança que denunciem adulterações.
- Incluir fotografias da preparação da encomenda (conteúdo e fecho da caixa).
- Privilegiar entregas em mãos para artigos caros.
Se optar por envio, escolher modalidades com seguro associado e pedir sempre comprovativo detalhado.
O golpe das encomendas “à cobrança” é mais um exemplo de como a criminalidade online e física se cruza para explorar a confiança dos consumidores. À superfície, parece um simples serviço postal; na prática, pode ser a porta aberta para perder artigos de valor sem nunca ver o dinheiro prometido.
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