Elevador da Glória: modernização podia ter evitado a tragédia?

O acidente no funicular da Glória, em Lisboa, que vitimou 16 pessoas e feriu mais de 20, deixou o país em choque. Uma infraestrutura histórica, usada todos os dias por turistas e lisboetas, transformou-se numa cena de terror ao descarrilar e embater contra um edifício. Muitos perguntam: como é possível que um transporte centenário, símbolo da cidade, tenha falhado assim? E ainda mais importante: os funiculares modernos já têm soluções para evitar este tipo de desastre? A resposta é sim e mostra que a modernização do Elevador da Glória podia mesmo ter mudado tudo.

Um ícone com mais de um século

O Elevador da Glória foi inaugurado em 1885 e, desde então, sobreviveu a várias transformações: começou a vapor, passou pelo sistema de contrapeso de água e acabou por ser eletrificado. Resistiu a guerras, revoluções e à pressão do tempo. Em 2002, foi mesmo classificado como Monumento Nacional.

A robustez da sua estrutura nunca esteve em causa. O problema? A tecnologia de segurança não acompanhou a evolução que se fez noutros países.

O que falhou?

Segundo as primeiras informações, o acidente terá sido causado pela rutura do cabo de tração. Ora, em teoria, deveria existir um sistema redundante que impedisse a descida descontrolada. Mas especialistas e sindicatos alertam: no caso do Elevador da Glória, esse sistema ou não existia, ou não funcionou.

E aqui está o contraste com o que já é obrigatório em muitos países europeus.

Como funcionam os funiculares modernos

Nos Alpes suíços, austríacos ou alemães, onde funiculares enfrentam inclinações brutais e transportam centenas de pessoas, a engenharia de segurança é implacável. O segredo não está em ter dois cabos de tração, mas sim em travões automáticos de carril.

Estes travões funcionam com molas em modo fail-safe: se o cabo se soltar ou se o carro ganhar velocidade a mais, os travões agarram-se automaticamente ao carril.
A ativação não depende de nenhum operador acontece por sensores de velocidade e tensão.

Resultado: o carro pode até abanar ou deslizar alguns metros, mas nunca desce descontrolado.

É por isso que, nos acidentes recentes reportados em funiculares modernos, os danos ficaram quase sempre limitados e sem grandes vítimas.

Lisboa ficou para trás

No caso da Glória, porque é que uma infraestrutura que transporta milhares de pessoas por ano não foi modernizada com tecnologia já banal noutros países?

A Carris garante que cumpre planos de manutenção diários, semanais e mensais. Mas a verdade é que inspeções não substituem sistemas automáticos que eliminam o risco humano ou a falha invisível.

A modernização podia ter evitado o acidente?

A resposta mais honesta: muito provavelmente, sim.

Se o carro tivesse travões automáticos de carril, governadores de velocidade e sensores de folga no cabo, o mais provável era que tivesse ficado imobilizado na linha, com susto mas sem vítimas mortais.

É precisamente para isso que essas normas existem. E foi essa camada de segurança que faltou em Lisboa.

O que deve mudar agora

A tragédia deixou claro que os funiculares de Lisboa precisam urgentemente de modernização. Não basta manter o charme histórico: é preciso trazer a tecnologia do século XXI para veículos que transportam diariamente turistas, famílias e estudantes.

Soluções possíveis já estão bem testadas:

  • Travões automáticos fail-safe de carril.
  • PLCs de segurança independentes que acionam travões sem intervenção humana.
  • Ensaios não destrutivos aos cabos, substituindo-os preventivamente.
  • Caixas-negras para registar falhas e melhorar protocolos.

O acidente no Elevador da Glória não foi apenas um falhanço de um cabo. Foi um falhanço de modernização. Num mundo onde funiculares modernos conseguem parar sozinhos em segundos, Lisboa continuava a confiar demasiado na sorte e em inspeções manuais.

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Bruno Fonseca
Bruno Fonseca
Fundador da Leak, estreou-se no online em 1999 quando criou a CDRW.co.pt. Deu os primeiros passos no mundo da tecnologia com o Spectrum 48K e nunca mais largou os computadores. É viciado em telemóveis, tablets e gadgets.

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