A presença de ecrãs publicitários gigantes nas cidades portuguesas deixou de ser apenas um fenómeno lisboeta, sítio onde de facto existe um maior número de ecrãs deste tipo. A expansão digital chegou com força a outros centros urbanos, por isso é altura de olhar para os impactos reais em segurança rodoviária, legalidade e sustentabilidade.
Mais ecrãs, mais distração para os condutores?
Estudos internacionais apontam que os ecrãs eletrónicos desviam a atenção dos condutores significativamente mais do que os painéis tradicionais. Afinal é algo “vivo”, e com um brilho artificial que pode significar um desviar de atenção significativo.
Aliás, observou-se que, diante de um ecrã digital, os condutores fixam o olhar por mais tempo e com maior frequência, sem distinção entre dia e noite. A publicidade digital distrai mais do que os cartazes de papel, especialmente junto a sinais de trânsito ou em zonas de alto risco, como curvas e cruzamentos.
Contratos milionários e expansão em curso!
Em 2022, a Câmara Municipal de Lisboa aprovou o contrato de concessão à JCDecaux (com participação da MOP), no valor anual de 8.3 milhões de euros, válido por 15 anos.
Aqui ficou previsto instalar:
- 900 mupis (pelo menos 250 digitais);
- 2000 abrigos urbanos;
- 125 painéis digitais de grande formato (totalizando entre 2 500 e 3 000 m² de faces publicitárias);
- 20 mupis digitais e cinco painéis informativos digitais (4×3 m).
Entretanto, a rival DreamMedia contestou judicialmente a adjudicação, alegando práticas anticompetitivas. Mas isso ainda está em resolução. Vale ainda a pena dizer que, além de Lisboa, o Porto também segue o mesmo caminho.
Energia consumida = energia desperdiçada?
Um estudo recente quantifica o impacto energético dos ecrãs digitais, nomeadamente os motados em Lisboa. Os equipamentos consomem energia equivalente à de 1486 habitantes e, para compensar em emissões, seria necessário plantar cerca de 30 mil árvores.
Os cálculos consideram:
- 125 painéis grandes, com consumo entre 10 e 15 kWh/dia cada;
- 20 painéis digitais, 7–10 kWh/dia cada;
- 5 painéis informativos, cerca de 12.5 kWh/dia cada.
Legalidade? Um claro ponto de interrogação
O Artigo 5.º, ponto 3 do Código da Estrada proíbe anúncios que:
- confundam sinais de trânsito;
- prejudiquem a visibilidade em cruzamentos;
- distraiam o condutor e comprometam a segurança rodoviária;
- obstruam a circulação dos peões.
Apesar disso, os contratos não impõem restrições claras de luminosidade ou horários. Ou seja, ao contrário do caso do ecrã gigante do El Corte Inglés, que tem limitação de horários e de brilho. Os novos painéis, funcionam sem essas limitações e em horário total.
Conclusão
A publicidade digital nas cidades é inevitável, mas a velocidade da expansão está a ultrapassar preocupações legítimas com segurança e sustentabilidade. Vale a pena sacrificar a concentração do condutor e a neutralidade energética por anúncios que piscam e brilham 24/7?
Antes de mais nada, nas redes sociais o que não faltam são discussões acerca deste tema. O que levanta a questão. O que pensas sobre tudo isto? Partilha connosco a tua opinião na caixa de comentários em baixo.
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