Quando olhas para um smartphone topo de gama, o que vês? Um ecrã impressionante, design premium, linhas elegantes e aquele brilho que quase grita “tecnologia do futuro”. Mas por trás desse visual impecável esconde-se uma verdade que a maioria prefere ignorar: os telemóveis mais bonitos são, muitas vezes, os mais difíceis (e caros) de reparar. E a Samsung, gigante global que vende milhões de equipamentos todos os anos, é um dos maiores exemplos.
Do Galaxy S5 à era do “vidro colado”
Há 10 anos, os telemóveis da Samsung eram simples de abrir. O lendário Galaxy S5, lançado em 2014, tinha uma tampa traseira removível. Se a bateria começasse a falhar, bastava tirá-la e trocar por outra em segundos. Até era resistente à água!
Mas isso acabou com a chegada do Galaxy S6 e do design unibody. A partir daí, beleza e sofisticação passaram a ser prioridade. Resultado? Cada peça passou a ser colada com adesivos fortíssimos. Para mudar um simples ecrã ou bateria, é preciso aplicar calor, usar ferramentas especiais e rezar para não partir nada no processo.
O que parecia evolução para o consumidor foi, na prática, um retrocesso para quem quer reparar.
A nota negativa da iFixit
A organização iFixit, conhecida por avaliar a facilidade de reparação de gadgets, não poupou críticas. O Galaxy S23 Ultra recebeu apenas 4 em 10 pontos, uma das piores classificações entre os smartphones premium.

Em comparação, o iPhone 16 da Apple levou 7 em 10 e isso apesar de a Apple também complicar a vida aos reparadores com peças “serializadas” que deixam de funcionar se não forem oficiais.
O inimigo invisível: a cola
A grande culpada chama-se… cola. É ela que mantém o ecrã e a traseira presos, mas também é responsável pela resistência à água e ao pó. O problema? Essa mesma cola transforma qualquer reparação num jogo de paciência e risco.
Se tentares substituir uma bateria em casa, por exemplo, tens de aquecer a traseira, levantar o vidro delicadamente e ainda lidar com cabos e componentes frágeis. Um deslize e o custo da reparação multiplica-se.
O charme (e a dor) dos ecrãs curvos
Durante anos, a Samsung apostou em ecrãs curvos para se diferenciar. O resultado era bonito e futurista… mas um pesadelo para técnicos de reparação. Os reflexos incomodavam, a fragilidade aumentava e a substituição era caríssima.
Felizmente, os modelos mais recentes abandonaram as curvas e voltaram a ecrãs planos. Ainda assim, o estrago já estava feito: a reputação de “smartphones lindos mas impossíveis de reparar” ficou.
A rutura com a iFixit
A situação chegou a tal ponto que, em 2024, a própria iFixit terminou uma parceria com a Samsung. A organização acusou a marca de vender peças oficiais a preços absurdos e de dificultar tanto as reparações que muitos consumidores acabavam por desistir e comprar novos aparelhos. Ou seja, exatamente o que as marcas querem.
Pequenos avanços com o Galaxy S25 Ultra
Nem tudo é negativo. O mais recente Galaxy S25 Ultra trouxe algumas melhorias. Agora a bateria vem com uma pequena aba que facilita a remoção, reduzindo o risco de partir outros componentes. E o ecrã plano, que regressou com o Galaxy S24 Ultra, tornou a substituição bem menos dolorosa.
Com isto, a iFixit até deu uma pontuação mais simpática: 5 em 10, a melhor nota da Samsung em anos. Mas sejamos sinceros: ainda está muito longe do ideal.
O problema não é só da Samsung
A verdade é que toda a indústria tem responsabilidade. A Apple, por exemplo, continua a bloquear reparações independentes com peças serializadas. Se não usares um componente oficial, o iPhone pode simplesmente deixar de funcionar.
Há alternativas?
Sim, mas são raras. A marca Fairphone, por exemplo, é considerada a campeã da reparabilidade. As peças são modulares, fáceis de trocar e vendidas a preços justos. O problema? O desempenho não chega ao nível dos gigantes Apple ou Samsung.
Enquanto isso, os gigantes continuam a apostar em designs que privilegiam estética e lucro acima da reparação.
Quando compras um smartphone, não estás só a escolher um design ou uma marca. Estás a aceitar todas as decisões que foram feitas por quem o produziu desde o tipo de parafuso até à quantidade de cola.
A Samsung pode ter telemóveis lindos, mas por dentro ainda são um verdadeiro quebra-cabeças para reparar. E isso não acontece por acaso: é uma escolha deliberada que empurra consumidores para o caminho mais caro o de trocar em vez de reparar.
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