Pode parecer um meme do Facebook ou Reddit, mas é cada vez mais comum nos portais imobiliários. Sim, leu bem… Anúncios a vender metade de um apartamento (ou 1/4, 1/8, 1/14…). Soa absurdo? Nem por isso.
Em Portugal, é perfeitamente legal vender parte indivisa de um imóvel, e como tal, no meio de tanta dificuldade, há quem aceite o desafio. O problema é… O que fazes com 50% de uma casa onde mora alguém que não és tu?
De onde vêm estas “metades”?
Na maioria dos casos, são heranças, divórcios ou execuções (e-Leilões, penhoras) que partem a propriedade. Q
Ou seja, quando não há acordo entre co-proprietários, alguém decide vender a quota. Para quem precisa de liquidez, é uma saída rápida. Para quem compra, pode ser um investimento com potencial. Mas claro, também pode ser um problema grave capaz de levar a paciência ao limite.
Porque é que alguém compra isto?
Há dois perfis.
- Investidor de longo prazo: compra com desconto (20–40% abaixo do valor proporcional do imóvel) e espera. Depois usa a via legal “divisão de coisa comum”: ou há acordo para um comprar o outro, ou o tribunal manda vender o imóvel e repartir o dinheiro. Se o leilão rende 300 mil, e a compra da metade foi “em saldo”, dá para sair com boa margem.
- Negociador agressivo: compra barato e faz “pressão” para o outro vender. É feio? É legal. E muitas vezes resulta.
Tem tudo para correr mal…
Se procuras casa para viver, foge.
Comprar metade significa, na prática, partilhar cozinha, WC e sala com um estranho. Não tens poderes de “seu senhorio”: não podes expulsar, não decides obras sozinho, e cada lâmpada pode virar discussão. Como é óbvio, quando quiseres vender, vais descobrir o óbvio: a liquidez é péssima.
Bancos também não adoram estas aventuras: financiamento para quotas indivisas é raro ou vem com spreads pouco simpáticos. Seguros, condomínio, IMI… tudo se paga, mas nem tudo decide sozinho.
O lado legal em três linhas
- Parte indivisa não é uma divisão física; é percentagem do todo.
- Podes pedir divisão de coisa comum: ou há acerto entre partes, ou venta-se e reparte-se.
- O outro co-proprietário tem direito de preferência: pode igualar a tua oferta e ficar com a tua quota.
Conclusão
Vender (ou comprar) metade de um apartamento não é ficção científica, é mesmo real. Aliás, é o reflexo de um mercado pressionado e de conflitos patrimoniais à portuguesa.
Para alguns, é uma excelente arbitragem jurídica e financeira. Para a maioria, é um sarilho que começa no dia da escritura e só acaba no tribunal.
Em suma, parece impossível, mas é real.