Portugal já proibiu o uso da burka em espaços públicos, e a decisão foi recebida com reações explosivas. Mas o mais surpreendente veio depois: nas redes sociais, muitos começaram a comparar o traje das freiras ao das mulheres muçulmanas. Sim, a sério. E essa comparação está a dizer muito mais sobre nós, do que sobre elas. Mas faz sentido comprar burkas com freiras?
Quando o pano vira bandeira e o país se divide
Bastou a proibição ser anunciada para surgir a frase viral: “Então e as freiras? Também andam tapadas e ninguém se queixa!”
Mas há um problema óbvio aqui: as freiras não cobrem o rosto. E o que a lei proíbe não é “vestir-se por fé”, é ocultar a identidade facial em locais públicos.
Mesmo assim, a discussão explodiu porque Portugal adora transformar tudo em campo de batalha ideológica. De um lado, quem defende a medida em nome da segurança. Do outro, quem vê nela um sinal claro de intolerância cultural.
Comparar burkas com freiras parece inocente… mas não é
Dizer que a burka e o hábito de freira “são iguais” é ignorar o contexto, a história e até a lógica. As freiras vestem-se assim por escolha dentro de ordens religiosas e a maior parte vive em conventos ou contextos religiosos. A burka, por outro lado, é um símbolo de fé e tradição usado por mulheres muçulmanas no dia a dia.
Mas o ponto não é o tecido, é o olhar. Quando a roupa é católica, é “tradição”. Quando é islâmica, é “ameaça”.
“As freiras estão no país delas” o argumento que volta a matar a conversa
Este é o argumento mais ouvido… e o mais vazio. Porque a Constituição Portuguesa protege todas as crenças religiosas, sejam de quem nasceu aqui ou de quem chegou ontem.
Dizer que as freiras podem e as muçulmanas não é o mesmo que dizer que a liberdade tem nacionalidade. E isso é perigoso. Portugal não pode dizer que é “tolerante” e depois decidir quem merece ser tolerado.
O que realmente está em causa
Esta polémica não é sobre religião, nem sequer sobre segurança. É sobre como reagimos ao que não reconhecemos. A burka causa desconforto porque é o espelho da diferença. Mas se a liberdade serve para todos, então também tem de servir para quem não se parece connosco.
O pano tapa o rosto mas revela o país
Portugal gosta de se ver como aberto, europeu e progressista. Mas bastou um pedaço de tecido diferente para mostrar o quanto ainda temos medo da diferença.
Nota do autor: Este artigo reflete apenas a opinião pessoal do autor e não representa necessariamente a posição editorial da Leak.pt.
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