Na última vez que foste às compras, pediste o talão ou a fatura? Embora ainda seja raro há pessoas que se estão a queixar de terem ouvido a frase: “Quer fatura? Então tem de pagar.” Sim, leste bem. Em algumas lojas dos cabeleireiros a certos cafés e até lojas de roupa tem surgido uma nova moda: cobram para imprimir faturas. À primeira vista parece apenas uma “taxa simbólica”, mas a verdade é que é uma prática que gera revolta entre os consumidores e por boas razões.
Cobram para imprimir faturas: a desculpa “verde” que irrita os clientes
Algumas lojas justificam-se com o ambiente: dizem que imprimir papel faz mal ao planeta, que estão a “reduzir a pegada ecológica” e que podem “enviar a fatura por e-mail”. Parece bonito… até perceberes que, por trás do discurso ecológico, está um novo truque para poupar custos às empresas e ainda ganhar uns cêntimos extra em cima de cada cliente.
O papel térmico usado nos talões custa às lojas, é verdade. Mas o que muitos consumidores não sabem é que a fatura é um direito legal, e nenhum estabelecimento pode cobrar pela sua emissão.
“Mas é só 10 cêntimos” é o princípio que conta
Tudo começou com casos partilhados nas redes sociais: clientes surpreendidos por pequenas taxas de “serviço de impressão” quando pedem o talão físico.
O valor parece ridículo, 5 ou 10 cêntimos, mas é o gesto que revolta.
Porque se aceitamos pagar para imprimir uma simples fatura hoje, o que vem a seguir? Pagar para usar a casa de banho? (Ah, espera… isso já acontece em alguns sítios.) Pagar para ter talheres num restaurante “eco”? Pagar para receber uma fatura com NIF?
A fronteira entre sustentabilidade e abuso começa a ficar cada vez mais ténue.
O que a lei diz e o que podes fazer
Segundo a Autoridade Tributária, nenhum comerciante pode cobrar pela emissão de uma fatura ou recibo. A fatura faz parte da operação comercial e é uma obrigação legal, não um extra opcional.
Aliás, o cliente tem sempre direito a pedir uma fatura, com ou sem NIF, sem custos adicionais. Cobrar por isso pode ser considerado prática abusiva e até dar origem a queixa formal ao Livro de Reclamações ou à ASAE.
Se te acontecer, anota:
- Pede o nome da loja e o número do talão (mesmo que recusem imprimir).
- Fotografa o aviso de “taxa de impressão”, se existir.
- Regista queixa no portal da ASAE ou no Livro de Reclamações Eletrónico.
- Podes até mencionar que a prática viola o dever de transparência comercial, previsto no Decreto-Lei n.º 70/2007.
A “moda” que pode espalhar-se
O problema é que esta tendência pode espalhar-se rapidamente. Hoje é o talão, amanhã é o comprovativo de troca, o cupão de desconto ou até o recibo da assistência técnica.
Tudo em nome da “digitalização” e do “ambiente”. Mas, na prática, é só mais uma forma de transferir custos do comerciante para o cliente sem que este se aperceba.
Há quem diga que “não custa nada”, mas a verdade é que cada pequeno custo que normalizamos abre a porta a outro. E quando dermos por isso, estaremos a pagar por tudo o que antes era gratuito.
A ironia máxima: o papel que as lojas continuam a gastar
O mais irónico? Muitas dessas mesmas lojas que se recusam a imprimir um talão de compra continuam a usar montanhas de papel para promoções, etiquetas, sacos personalizados e cartazes “eco friendly”.
Ou seja: papel para publicidade pode, mas papel para garantir direitos do consumidor não.
Uma lógica que faz qualquer um revirar os olhos.
No fim de contas…
Pode parecer um detalhe, mas é nestas pequenas coisas que se mede o respeito por quem compra. Uma fatura não é um favor, é um direito. E cobrar por ela é uma forma silenciosa de dizer: “Quer transparência? Pague por isso.”
Em Portugal, mesmo as máquinas automáticas (como multibancos e parquímetros) são obrigadas a oferecer a opção de emitir comprovativo sem custos. Portanto, se alguém te quiser cobrar por um simples pedaço de papel… já sabes o que responder.
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